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cerrado cana-de-açúcar
2007-12-01

As áreas que o Ministério do Meio Ambiente definiu como prioritárias para a conservação do Cerrado estão sendo invadidas pelo cultivo da cana-de-açúcar, de acordo com um levantamento do Instituto Sociedade, População e Natureza, um centro de pesquisas sem fins lucrativos, divulgado nesta sexta-feira (30). O problema ameaça não apenas os recursos naturais da região, mas também as populações que vivem no local e a segurança alimentar dos moradores.

O Cerrado é o segundo bioma mais ameaçado do país, atrás apenas da Mata Atlântica. Se estendendo ao longo de cerca de dois milhões de quilômetros quadrados, faz ligação com todos os outros biomas do país, a Amazônia, a Caatinga, o Pantanal e a Mata Atlântica.

Como não existe um monitoramento oficial, fica difícil saber exatamente o quanto do Cerrado brasileiro está sendo destruído. Mas as estimativas indicam que o desmatamento na região seja ainda maior que o do Amazônia e que, ao longo dos últimos dez anos, o Brasil perdeu a metade da cobertura original de Cerrado.

Os pesquisadores do ISPN traçaram o perfil das grandes culturas da região, de acordo com Nilo D’Ávila, assessor de políticas públicas do Instituto. Ao analisar as áreas que o Ministério do Meio Ambiente havia declarado, em junho passado, como “prioritárias” para a conservação do bioma, eles levaram um susto.

“Surpreendentemente, as áreas em que o Ministério se debruçou, as que precisam ter atenção, estão repletas de cana”, afirmou D’Ávila ao G1. “Onde o Ministério finalizou que iria ter um trabalho, a indústria da cana está chegando primeiro”, disse ele.

É o caso dos municípios de Goianésia e Barro Alto, em Goiás, em uma região considerada uma prioridade “muito alta” para o uso sustentável, segundo o Ministério, que está “dominada pela cultura da cana”, segundo o levantamento do ISPN. O caso se repete em outras áreas goianas e em outros estados.

Na nascente do rio São Lourenço, no Mato Grosso, a cana-de-açúcar se espalha exatamente pela mesma área onde se deveria ser instalado um corredor de biodiversidade para migração das espécies. O centro do estado de São Paulo, área de prioridade “extremamente alta” para o MMA, está tomado pela cana.

Para Nilo D’Ávila, “já passou da hora do MMA fazer alguma coisa”. Ele sugere um plano de ação urgente, que envolva dois pontos principais. “Primeiro, é preciso criar um plano de combate ao desmatamento no Cerrado nos moldes do que já é feito na Amazônia”, afirma. “Em segundo lugar, é preciso definir regiões de proteção para instalação a curto prazo de projetos de sustentabilidade.”

Em resposta, o gerente de biocombustíveis e agronegócios do Ministério do Meio Ambiente, Mário Cardoso, afirmou que a definição das áreas prioritárias para conservação do Cerrado é algo ainda muito recente, e não houve tempo para o governo implementar todas as medidas que pretende.

Segundo Cardoso, o MMA deve finalizar o zoneamento agroecológico da região até junho do próximo ano. A partir de então será possível evitar que as áreas prioritárias sejam usadas para o cultivo da cana. "Há uma vantagem no caso da cana-de-açúcar que é a de que não existe cana sem usina. Sabemos quem é o dono de cada plantação e isso torna mais fácil controlar a área", explicou Cardoso.

(AmbienteBrasil, 01/12/2007)


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