O consumidor não percebe, mas existe determinado volume de água utilizado por ele que não é cobrado pelas concessionárias. Isto porque os medidores instalados nas edificações não conseguem aferir as pequenas vazões que ocorrem quando a torneira de bóia está fechando – com o reservatório quase cheio. Por isso, ocorre o que as concessionárias chamam de submedição de água.
“Na empresa, chama-se perda aparente ou perda não-física e, embora o consumidor não pague por esta água, na composição do custo total este valor pode ser considerado”, explica o engenheiro Leonel Gomes Pereira que apresentou dissertação de mestrado na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC).
O índice perdido pela submedição é pouco estudado pelas concessionárias e não se sabia ao certo qual seria esta porcentagem. “Alguns cálculos apontam para uma perda entre 8% e 25%. Além da margem ser grande, não são detalhados os fatores determinantes e as características das edificações”, afirma o engenheiro.
Orientado pela professora Marina Sangoi de Oliveira Ilha, Pereira desenvolveu uma metodologia de cálculos para chegar ao índice de perda, tomando como base 22 residências da cidade de Campinas. No estudo, ele chegou à marca de 15% de perda por parte das concessionárias. “Trata-se de um valor extremamente alto se for levado em consideração o volume de água que é utilizado na residência. Significa dizer que a cada 100 litros, 15 são perdidos”, revela.
O objetivo do engenheiro foi propor medidas que melhorassem o desempenho do sistema de abastecimento em residências. Por isso, instalou medidores volumétricos, ou seja, com maior capacidade de aferir os volumes gastos. A questão, no entanto, é que este tipo de equipamento não serviria como solução para o problema, pois tem um custo elevado.
Uma sugestão feita pelo pesquisador é a instalação de hidrômetros de menor capacidade, medida essa que já passou a ser implantada pela concessionária de água e esgoto de Campinas. Outra alternativa seria a instalação de outros modelos de torneiras de bóias, ditas de alta vazão. “A questão é convencer o consumidor a instalar um acessório que resultaria no aumento do custo da água”, argumenta o engenheiro.
Pereira lembra ainda que os reservatórios de água só existem em países menos desenvolvidos em que não se tem confiabilidade no sistema de abastecimento de água. No Brasil, a exigência é das próprias concessionárias que não gostariam de sofrer penalidades pela falta no abastecimento. Na opinião de Pereira, os reservatórios acabam desempenhando o papel de vilão, pois a água muito tempo parada fica vulnerável à contaminação.
(Por Raquel do Carmo Santos, Jornal da Unicamp, 29/11/2007)