Em entrevista a emissoras regionais de rádio do país, nesta quinta-feira, o ministro de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, perdeu a paciência ao ser questionado três vezes sobre políticas públicas do governo em execução e que não são de sua pasta. Irritado, ele disse que não é "inspetor geral do governo", ao responder a pergunta sobre a transposição do São Francisco. Também afirmou que não falaria sobre CPMF, apontada por ele como um tema menos importante. E causou polêmica ao dizer que, entre meio ambiente e desenvolvimento, o país deve optar por desenvolvimento.
- Se o Brasil, não sou eu, tiver de escolher entre ambientalismo e desenvolvimento, escolherá desenvolvimento, e qualquer país faria essa escolha. Isso não é uma questão de valorização pessoal. Nenhum país vai escolher virar um parque para preservar a natureza. O que eu disse é que essa escolha é uma escolha falsa. Não podemos aceitar essa escolha. Temos de encontrar um modelo de desenvolvimento que nos permita crescer sem depredar a natureza - disse.
O ministro, que concedeu nesta quinta a primeira entrevista coletiva desde a sua posse, estava esclarecendo uma resposta sobre a matriz energética brasileira. Ele afirmou que, ao dar essa resposta, estava sendo "prático e transparente". O programa "Bom Dia, Ministro" é coordenado pela Rádio Nacional de Brasília, com a participação de emissoras do país. Ontem participaram rádios do Rio Grande do Sul, de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Rondônia, de Minas Gerais e do Amazonas.
Por três vezes seguidas, o ministro teve de explicar que a sua função é planejar políticas públicas para o futuro, como a elaboração do plano estratégico de defesa nacional, em parceria com o Ministério da Defesa. Embora o tema seja o mais importante para o governo no momento, Mangabeira não quis falar de CPMF, que tratou como um assunto cincunstancial. Disse ter opinião formada sobre o imposto do cheque, mas que não iria formulá-la, pois cabe a outras pessoas do governo cuidar do assunto.
- Muita gente no país e no governo trata do urgente. A minha tarefa é tratar do importante. Eu não trato de assuntos conjunturais ou circunstanciais. Se eu começar a entrar nesse debate, eu começo a confundir as coisas. Tenho de insistir na pureza da minha tarefa que é a formulação de grandes projetos de construção nacional. Toda a nossa mídia está obcecada por assuntos passageiros. Ninguém no Brasil (ou poucos) quer discutir o que importa. Milhares de pessoas podem tratar da CPMF, eu não serei uma delas - afirmou.
(Luiza Damé,
O Globo, 29/11/2007)