Às vésperas do início da conferência da ONU sobre mudanças climáticas, a revista científica "Science" (www.sciencexpress.org) publica hoje uma espécie de alerta para a necessidade de conter a devastação da Amazônia.
A convite da revista, uma equipe de pesquisadores do Reino Unido, dos Estados Unidos e do Brasil fez uma revisão de diversos estudos anteriores que avaliam o impacto do desmatamento e do aquecimento global na região.
O texto reforça uma mensagem já conhecida, porém ainda não transformada em políticas públicas de conservação da mata: se o ritmo de alteração da floresta se mantiver pelos próximos anos, os ecossistemas da região sofrerão danos permanentes. Haverá perda de biodiversidade e o regime de chuvas vai sofrer uma pane, bagunçando o clima não só da região como de todo o continente.
"Sem contar que, sem a mata, o país perderá seu importante serviço ambiental de armazenamento de carbono", lembra o climatologista Carlos Afonso Nobre, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), co-autor do artigo.
Em colaboração com Yadvinder Malhi, do Instituto de Mudança Ambiental da Universidade de Oxford, Nobre e mais quatro cientistas também propuseram saídas para a floresta. O texto lembra que é quase inevitável que ainda ocorra uma conversão futura de parte da mata em áreas para plantio e pasto, mas defende que ela seja a menor possível.
Apesar de não ter sido apontado no artigo como uma meta recomendável para a região, o "desmatamento zero", proposto em outubro por entidades ambientais, foi lembrado por Nobre. "Não será algo que se possa querer alcançar no ano que vem, mas acho que deveria ser, sim, um plano para as próximas décadas", disse.
Ao longo da ocupação da região, cerca de 700 mil km2 já foram devastados. "Se pegássemos 50% dessa área e investíssemos em alta tecnologia para aumentar a produtividade e a rentabilidade, não seria preciso desmatar mais nada."
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Folha de São Paulo, 30/11/2007)