O bispo de Barra (BA), d. Luiz Flávio Cappio, apresentou ontem (29/11) uma "carta aos povos do Nordeste" na qual fala sobre a greve de fome - que chegou hoje ao quarto dia - e os motivos pelos quais é contrário à transposição do Rio São Francisco, que qualificou como "um problema de ordem ecológica, econômica, social e ética".
Instalado na Capela de São Francisco, em Sobradinho (BA), a 554 quilômetros a noroeste de Salvador, e acompanhado por parentes que chegaram hoje de São Paulo para dar apoio à manifestação, d. Luiz afirma, na carta, que a questão central é combater o desperdício. "O que precisa é construir uma nova mentalidade a respeito da água (...), valorizando cada gota."
Ele reconhece que o ato de protesto que realiza, talvez, não seja entendido por boa parte da população. "A maioria acha que a transposição resolve a seca", escreveu, mas afirma que está disposto a seguir com a greve "até o fim", caso seja necessário. Do lado de fora da capela, foram instalados painéis fotográficos com imagens do rio e explicações sobre o deslocamento do curso dágua e os supostos efeitos das obras para os moradores das margens do São Francisco. Filas de apoiadores são organizadas também fora da pequena igreja - para não se cansar, ele começou a recebê-los em pequenos grupos, um por vez.
D. Luiz afirma que só interrompe a manifestação se as tropas do Exército saírem dos locais onde são realizadas as obras ou se forem arquivados, definitivamente, os projetos da operação - opções descartadas pelo governo. "Ainda não recebi nenhuma declaração formal do governo sobre o assunto", alega.
Na tarde de hoje, o bispo de Barra recebeu a visita de um médico, segundo o irmão dele João Franco Cappio. O estado de saúde de d. Luiz foi considerado bom, apesar de ele começar a apresentar sinais de fadiga. "Se algo acontecer com meu irmão, a culpa será do presidente", dispara Franco Cappio.
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A Tarde, 29/11/2007)