Território e liberdade. Este é o mote do III Grito Quilombola do Sapê do Norte, que será realizado nesta sexta-feira (30). São esperados cerca de 600 participantes, que se concentrarão a partir das 8h30, em Santana I. Depois, seguirão em marcha até a sede de Conceição da Barra. O território quilombola na região foi tomado principalmente pela Aracruz Celulose.
Sapê do Norte é o território quilombola formado por Conceição da Barra e São Mateus. No convite para o III Grito, a Comissão Quilombola do Sapê do Norte informa que “diante de tanta discriminação sobre a nossa identidade étnica e pouco conhecimento de nossa causa, nós, quilombolas, vamos às ruas mais um ano, mostrar à população o nosso jeito, a nossa cultura, as nossas lutas e os nossos direitos”.
Explicam que “ser quilombola é fazer parte da comunidade e participar da resistência à opressão histórica, é ter ancestralidade africana, e ter identidade quilombola, ser reconhecido pela comunidade”.
Os quilombolas afirmam que têm relação respeitosa com a terra. Acrescentam que esta relação “não se pauta por uma percepção de mercadoria, como fazem os capitalistas interessados em explorar, roubar e matar as nossas terras para fins econômicos”.
Para a marcha os quilombolas são orientados a levar “bandeiras e faixas para apoiar a nossa luta”. A comissão conclama para que todos dêem o grito por “território e liberdade”.
Os quilombolas têm direito a aproximadamente 50 mil hectares de terras no Espírito Santo, segundo pesquisas já realizadas pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). As pesquisas foram contratadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) que, por força de lei, tem obrigação de devolver as terras aos negros que descendem dos antigos escravos.
A principal usurpadora das terras quilombolas é a Aracruz Celulose. Mas o território dos descendentes de escravos também foi ocupado com plantios de eucalipto e é usado pela Suzano e pela Bahia Sul. As terras dos negros também são ocupadas pela Destilaria Itaúnas S/A (Disa) e a Alcon, com plantios de cana-de-açúcar, e por fazendeiros, em geral com pastagens improdutivas.
A ocupação das terras forçou os quilombolas a abandonar a região. Em Sapê do Norte existiam centenas de comunidades na década de 70, e hoje restam 37. Ainda na década de 70, pelo menos 12 mil famílias de quilombolas habitavam o norte do Estado: atualmente resistem entre os eucaliptais, canaviais e pastos, cerca de 1,2 mil famílias. No sul do Estado existem 16 comunidades quilombolas.
(Por Ubervalter Coimbra,
Século Diário, 30/11/2007)