Aproveitamento das fossas abissais oceânicas, dos bolsões vazios de petróleo, das falhas geológicas e outros locais como depósito de carbono. As fossas abissais oceânicas, os bolsões vazios provenientes da retirada do petróleo, as falhas geológicas, são os depósitos naturais para armazenagem do carbono que está "sobrando" na atmosfera e causando o efeito estufa. Durante séculos acreditávamos serem os oceanos as lixeiras inesgotáveis e naturais do mundo, crença essa, até certo ponto, razoável, pois através das chuvas, os sais, nutrientes naturais do solo, os compostos de carbono e muitos outros resíduos vão se acumulando nos mares e oceanos, tornando suas águas cada vez mais saturada, mais salina.
Mas a realidade é bem outra, os mares e oceanos são tão ou mais vulneráveis a poluição que a crosta terrestre. Suas águas precisão de luz, transparência e estarem desintoxicadas para gerarem a flora e a fauna marinha tão necessárias à vida na terra, nos mares e nos oceanos. As águas, mesmo as salgadas, tem a capacidade de dissolver e incorporar em suas massa gases como oxigênio, o carbônico e outros gases. Essa capacidade aumenta com a pressão e as baixas temperaturas. Quanto maior for a pressão e menor a temperatura, maiores serão as concentrações daqueles gases.
Nas regiões profundas dos mares e oceanos, possivelmente devido a esses fenômenos, as quantidades de carbono "estocadas" chegaram a quantidades imensuráveis, a ponto de despertar o interesse das empresas petrolíferas na exploração destas "jazidas" de carbono. É interessante se notar o fato de que os depósitos, no caso do gás carbônico, não são mais deste gás, mas sim o metano cristalizado a que os especialistas deram um nome bastante sugestivo, os hidratos de carbono. O gelo que queima. Esta seria a primeira descrição da "combinação" cristalizada entre moléculas de metano e moléculas de água, encontrada em regiões profundas dos oceanos. Os hidratos de metano já são considerados, pelos cientistas, a principal fonte de energia para o século XXI. Entretanto, a exploração desta fonte de energia pode provocar o maior desastre ecológico de todos os tempos devido à liberação do gás metano pela rápida desidratação do mesmo. As chamadas regiões abissais oceânica detêm cinqüenta e cinco por cento de todo o carbono presente na crosta terrestre.
Daí vem-nos a idéia:
a) Se as regiões abissais oceânicas são os depósitos naturais do carbono, podemos aproveitar esses espaços gigantescos e ainda disponíveis para "aprisionarmos" o gás carbônico, o principal causador do efeito estufa, de forma indireta.
b) Usaremos, para esse fim, a energia solar, a fotossíntese e a água para cultivarmos gigantescas florestas, biomassa abundante que será enfardada em containeres de aço inoxidável, de concreto armado, de plástico ou qualquer outro material resistente à corrosão e, com o auxilio de grandes embarcações, seriam transportados para aqueles locais e submersos por ação da gravidade. Os containeres ou invólucros da biomassa deverão possuir orifícios para entrada da água e equilíbrio das pressões internas e externas para prevenir possíveis esmagamentos dos containeres e facilitar a submersão dos mesmos.
c) A grande vantagem de se utilizar biomassa para capturar o gás carbônico é o fato de que só será capturado o carbono, deixando-se livre o oxigênio. Cada 12 (doze) toneladas de carbono capturadas, via biomassa, serão liberadas 32 (trinta e duas) toneladas de oxigênio para atmosfera, e, muito importante, 44 (quarenta e quatro) toneladas de CO2, gás carbônico, gás causador do efeito estufa, deixariam de existir na atmosfera.
d) Serão, de certa forma, verdadeiros depósitos geológicos, tratam-se de fossas geológicas que se vierem a sofrer abalos sísmicos ou acomodação de camadas, iriam soterrar esses containeres, tornando-os ainda mais seguros com relação ao meio ambiente.
e) Em grandes profundidades abissais não há desenvolvimento de vida, capaz de gerar reações aeróbias ou anaeróbias, portando, não havendo degradação desta biomassa, não haverá geração de gases e a atmosfera estará livre da massa de gases que fatalmente seria gerado se aquela quantidade de biomassa continuasse sobre a superfície terrestre, entrasse em decomposição natural ou fosse incinerada.
f) Se a cada "colheita" da biomassa se plantasse outra, gradualmente, o gás carbônico estaria sendo capturado e, indiretamente, depositado nestes depósitos geológicos sob a forma de carbono com uma conseqüente limpeza gradativa da atmosfera.
g) Se a captura direta do gás carbônico se torna inviável devido às suas condição de gás, capaz de ocupar grandes volumes, desenvolver grandes pressões, além de outros riscos óbvios que não enumeraremos, vamos aprisionar o carbono, "matéria prima" geradora do referido gás, cujo excesso na atmosfera se tornou "um inimigo implacável", o principal gerador do Efeito Estufa.
h) Os combustíveis fosseis continuariam sendo explorados, estaria havendo uma espécie de reciclagem, uma correta destinação do efluente gasoso gerado na exploração deste tipo de energia, por via indireta, ao seu local de origem, às profundezas da crosta terrestre.
Usando-se o mesmo raciocínio, a mesma lógica, a biomassa poderia ser armazenada, aproveitando-se os espaços disponíveis deixados pela exploração do petróleo. A retirada do petróleo deixa grandes vazios que são preenchidos com água. Por que não ocupar esses espaços com biomassa? A mineração cria gigantescas crateras que, muitas vezes, são simplesmente abandonadas sem passarem por processo de remediação. Por não aproveitá-las?
As falhas geológicas, gigantescos espaços, muitas vezes continentais, poderiam ser utilizados como depósitos de biomassa. Por que não fazê-lo? A mãe natureza, via carbono, forneceu tanta riqueza ao homem durante o século passado. Por que não devolver, durante este século, parte dessa riqueza a ela, devolvendo parte do carbono ao seu local de origem, de onde nunca deveria ter sido retirado, às profundezas da crosta terrestre?
(Por Antonio Germano Gomes Pinto *, Adital, 27/11/2007)
* Bach. em Química. Químico industrial. Eng. químico, especialista em Rec. Nat./Geologia. Esp. em Tecn. e Gestão Amb. Professor univ. Autor de 2 patentes reg. no INPI e outros países