Às 9h30 da manhã de ontem (27/11), o bispo da diocese de Barra (BA), Dom Frei Luiz Flávio Cappio, reiniciou, na Capela de São Francisco, em Sobradinho (BA), ao pé da barragem da localidade, a greve de fome pelo arquivamento definitivo do projeto de transposição de águas do rio São Francisco e pela retirada do exército do eixo norte e do eixo leste do rio.
Em carta enviada ao presidente Lula, Dom Luiz recorda o compromisso firmado pelo governo, em outubro de 2005, de suspender o processo de transposição e iniciar um amplo diálogo com a sociedade civil brasileira, na busca de alternativas para o desenvolvimento sustentável para todo o semi-árido, o que não foi cumprido.
O Rio São Francisco, que nasce em Minas Gerais, corta o estado da Bahia, passa por Pernambuco e divide a fronteira entre Sergipe e Alagoas, tem 2.800 km de extensão, mas suas reservas estão diminuindo e nesse momento se encontra com menos de 14% da sua capacidade. O jejum de Dom Luiz Cappio busca chamar a atenção para o estado de mingua em que se encontra o rio.
"Acredito que as forças interessadas no projeto usarão de todos os meios para desmoralizar nossa luta e confundir a opinião pública. Mas quando Jesus se dispôs a doar a vida, não teve medo da cruz. Aceitou ser crucificado, pois este seria o preço a ser pago", disse, na carta, Dom Luiz.
Dessa vez, o bispo retoma o jejum e a oração e deixa claro que só irá suspendê-lo com a retirada do exército e o arquivamento projeto: "Não existe outra alternativa". No dia 22 de fevereiro deste ano, Dom Luiz Cappio protocolou no Palácio do Planalto um documento no qual solicitava a reabertura e continuidade do diálogo - que foi somente iniciado -, e que esse fosse verdadeiro, transparente e participativo.
A resposta do governo federal foi o início das obras de transposição pelo exército brasileiro; razão pela qual, o bispo acusa o presidente da República de ter enganado "a mim e toda a sociedade brasileira". Segundo dom Luiz, já existem propostas concretas dos movimentos sociais para garantir o abastecimento de água para toda a população do semi-árido: as Ações previstas no Atlas do Nordeste apresentada pela Agência Nacional de Águas (ANA) e as ações desenvolvidas pela Articulação do SemiÁrido (ASA).
A carta, na qual Dom Luiz Cappio comunica ao presidente Lula sua decisão de retomar seu jejum em defesa do São Francisco, foi protocolada, na mesma hora em que esse retomava a greve de fome, no Palácio do Planalto, em Brasília, por de Dom Tomás Balduíno, conselheiro permanente da CPT.
Há dois anos
Entre 26 de setembro e 6 de outubro de 2005, Dom Luiz Cappio passou 11 dias em jejum, em Cabrobó (PE), para protestar contra o Projeto de Transposição do Rio são Francisco. Após pressão popular, o presidente Lula enviou o então ministro Jaques Wagner para negociar o fim do jejum. A "greve de fome" foi encerrada mediante a assinatura de um acordo, no qual governo e sociedade deveriam discutir o projeto de transposição e elaborar alternativas a ele.
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Adital, 27/11/2007)