As belezas do meio ambiente no Paraná e também os desgastes sofridos por ele ao longo dos anos, do ponto de vista de caminhoneiros do estado, estão ilustrados no livro "Rios por onde passo". A obra foi lançada na terça-feira (27), no Espaço Krajcberg, no Jardim Botânico, em Curitiba. A publicação tem organização e edição da jornalista Teresa Urban e fotos de João Urban.
"Rios por onde passo" é resultado de uma pesquisa inédita feita com 184 caminhoneiros que, nos últimos anos, têm acompanhado a paisagem natural do Paraná do alto da boléia do caminhão.
As 108 páginas e os seis capítulos do livro mostram um universo de percepções dos caminhoneiros como os locais mais bonitos do estado, os problemas que estão destruindo os rios e as paisagens e as mudanças necessárias para assegurar as condições essenciais à proteção dos remanescentes das florestas que cobriam originalmente o estado.
"São informações importantes para toda a sociedade. É um tretrato do Paraná que percorre 50 anos. Esse olhar é importante para todo mundo e a situação ambiental do Paraná é de devastação", avalia Teresa Urban. Entre os rios mais bonitos, estão o Paraná, Iguaçu, Tibagi e o Ivaí e as paisagens mais bonitas as Serras do Mar e da Esperança. Já Salto das Sete Quedas, em Guaíra, foi citado como o local que mais deixou saudades.
O objetivo inicial era alertar os caminhoneiros sobre a importância dos rios que cortam as rodovias e os cuidados necessários para evitar acidentes que pudessem afetar a qualidade da água. Mas, o surpreendente interesse dos profissionais em relação às questões ambientais fez surgir a idéia do projeto. "Ninguém mais do que eles percorre essas estradas. Eles têm um olhar itinerante e a paisagem é uma referência", afirma Teresa. Segundo a jornalista, é possível perceber que a percepção destes profissionais converge sempre para os mesmos pontos. "Eles citam o mesmo rio que está secando, o rio que está poluindo, eles notam a ausência de peixes".
Histórias de caminhoneirosOs depoimentos dos caminhoneiros - individual ou em grupo - foram colhidos em Curitiba e Paranaguá. Entre os entrevistados, 60% têm mais de 15 anos de estrada. São memórias de quando o Sul do estado era tomado por pinheiros-do-paraná e o Norte por peroba, coisas que, infelizmente, apenas são encontrados em abundância nos relatos saudosos de quem viveu essa época.
"Mudou tudo para pior: araucária, peroba, guajuvira, ipê, cedro, angico, são árvores que tinha muito, hoje não se vê mais", relata Antonio Pereira de Bairos, de 65 anos de idade e 34 de estrada. Há 23 anos na estrada, Nilton Santos Martins, 49, atesta que os rios secaram em um intervalo de tempo muito pequeno. "O que era rio no passado, hoje em dia não passa de uma sanga e olha lá".
Dos 184 entrevistados, 69% são do Paraná e os demais de outros estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A maioria trabalha de 50 a 60 horas semanais e tem entre dez e 30 anos de estrada. O Paraná é o terceiro estado em número de caminhoneiros, atrás de Minas Gerais e São Paulo.
ProjetoO projeto foi iniciativa da Mater Natura - Instituto de Estudos Ambientais e surgiu durante o desenvolvimento do Programa de Educação Ambiental da APA do Irai - ProLago do Irai, na Região Metropolitana de Curitiba, entre 2002 e 2005. O livro foi viabilizado através da Lei Rouanet, com patrocínio da Volvo do Brasil e apoio da Posigraf.
(
Gazeta do Povo, 28/11/2007)