A educação de índios no Brasil esbarra na demarcação de terras. Sem que os territórios estejam regularizados, o Ministério da Educação (MEC) não financia a construção de escolas. “O que a gente não entende é porque, independente da escola ser para índios, não se constrói escolas quando temos alunos”, questiona o professor Macuxi Telmo Ribeiro Paulino.
O professor é representante da Comissão de Professores Indígenas da Amazônia e falou nesta terça (27/11), sobre os problemas da educação, em evento paralelo aos Jogos dos Povos Indígenas, em Recife.
Segundo Telmo Ribeiro, a falta de escolas dentro das aldeias, um problema pelo qual também passam as reservas demarcadas, leva muitos dos estudantes à prostituição e às drogas. “Para fazer o ensino médio ou até o fundamental, muitos indígenas se envolvem com a prostituição, para ter dinheiro, ou com drogas, como as bebidas alcoólicas e a maconha”, explicou. “Sem escolas nas aldeias, continuaremos a perder nossos jovens.”
Em entrevista à Agência Brasil, o representante da Coordenação Geral de Educação Indígena do Ministério da Educação, Tiago Garcia, disse que, com o aumento do número de alunos no nível médio, que cresceu nos últimos anos, o problema da falta de escolas se agrava.
“O sistema educacional não está preparado para receber os indígenas. Eles [os índios] querem ser atendidos em suas especificidades como os estudos da língua materna e do português, por exemplo”, disse Garcia. “Mas o modelo não está preparado para lidar com essa diversidade.”
Apesar das dificuldades, existem exemplos de ações bem-sucedidas. O antropólogo do ministério cita que a aldeia do povo Tikuna, situada na fronteira do Brasil com a Colômbia, os índios aprendem a língua materna, o português e o espanhol.
Embora também considere a exigência da demarcação de terras uma barreira para a educação, Garcia afirma que a articulação entre as lideranças indígenas, os estados e a União é importante para buscar alternativas. Isso porque, segundo ele, o Ministério da Educação é responsável pela coordenação da política para a educação indígena e pelo apoio técnico e financeiro, enquanto a educação na aldeia cabe aos estados.
“No cenário da educação indígena, todo mundo deve estar articulado, MEC, estados e municípios, lideranças e professores indígenas buscando a construção da educação escolar de qualidade. Não tem como fazer ações isoladas”, afirmou o antropólogo.
(Por Isabela Vieira,
Agência Brasil, 27/11/2007)