A greve de fome retomada nesta terça (27/11) pelo bispo da Diocese de Barra (BA), Dom Frei Luiz Flávio Cappio, em protesto contra a transposição do Rio São Francisco, é um gesto “heróico” de quem conhece o semi-árido e a situação precária do rio.
Esta é avaliação do coordenador regional do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Luís Carlos Fontes. “Ele [o bispo] sabe que a transposição não vai resolver a questão dos pobres e fere de morte o futuro do rio.”
Para Fontes, a manifestação radical é provocada pela insensibilidade do governo federal em não rediscutir o projeto e pela inércia da Justiça em relação a supostos impedimentos legais. O coordenador alega que o governo desqualifica e não estabelece real diálogo com os integrantes do Comitê.
“Não adianta usar o Exército para intimidar o povo e impor a qualquer custo a transposição. Tem de sentar à mesa e dar voz às partes legítimas”, afirmou.
O Comitê sustenta que o real objetivo do atual projeto de transposição é privilegiar grandes empresários de irrigação e a criação, no Rio Grande do Norte e no Ceará, de camarões para exportação. Fontes defende que sejam priorizadas soluções de atendimento às vítimas mais pobres da seca.
“Deveria começar pela distribuição da água estocada no Ceará, no Rio Grande do Norte e na Paraíba, onde existem grandes açudes que não secam. Para quê levar água pra lá? Não faz sentido”, criticou Fontes.
Ele argumentou ainda que a revitalização do rio São Francisco é urgente e não pode ser usada como moeda de troca para o projeto de transposição.
O coordenador do comitê diz que o início da obras provocou o acirramento de críticas e conflitos. Ele teme a extensão do novo protesto do religioso.
“Dom Flávio é determinado, consciente dos seus atos e está disposto a dar a vida pelo rio. Se acontecer um desfecho trágico, a responsabilidade é dos que optaram pela truculência e a imposição, em vez do diálogo”, alertou.
(Por Marco Antônio Soalheiro,
Agência Brasil, 27/11/2007)