As mudanças climáticas poderão ameaçar a melhoria no desenvolvimento humano em todo o mundo. O alerta foi feito no Relatório de Desenvolvimento Humano divulgado nesta terça-feira (27/11) pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). De acordo com o relatório, o aumento de catástrofes naturais prejudicará principalmente os 40% mais pobres do mundo (cerca de 2,6 bilhões de pessoas) que terão dificuldade para garantir a sobrevivência.
"Notadamente na África Subsariana e sul da Ásia, mas também há muitas pessoas no Brasil que são altamente vulneráveis às mudanças climáticas, como no Nordeste, em favelas e na floresta equatorial", afirmou Kevin Watkins, coordenador do relatório. Watkins ressaltou que, na Etiópia, por exemplo, uma seca pode aumentar em 33% a probabilidade de crianças com má nutrição cinco anos depois. Ele disse que as estatísticas são similares no Brasil.
"Um choque pequeno apenas na vida de uma pessoa muito pobre pode criar ciclos longos de desvantagens", declarou. Para atenuar esses problemas, o relatório calcula que os países desenvolvidos devem reduzir a emissão de gás carbono em 80% até 2050. Para Watkins, a culpa pela crise ecológica pela qual o planeta passa é dos países ricos. Ele informou que as emissões per capita de carbono nos Estados Unidos é de 20 toneladas por ano, enquanto no Brasil é de 1 tonelada/ano e, na Etiópia, 0,2 tonelada/ano.
"Não é o Brasil e a Etiópia os responsáveis por essa crise. Se todas as pessoas do planeta gerassem a mesma quantidade de dióxido de carbono que um norte-americano, precisaríamos de nove planetas", comparou. Watkins defende a taxação de emissões de carbono e o aumento de programas de crédito de carbono. Além disso, ele pede que países desenvolvidos financiem adaptações que terão que ser feitas pelos países em desenvolvimento para se protegerem das mudanças no clima, construindo, por exemplo, barreiras contra inundações. Isso custaria cerca de US$ 86 bilhões por ano até 2015. "É claro que alguns governos dirão que isso não é prático. Meu ponto de vista é o que não é prático é que os países que criaram esse problema volte as costas para as vítimas", disse.
(Lorenna Rodrigues,
Folha Online, 27/11/2007)