Povos de todo o mundo estão se preparando para inundações, secas e outras catástrofes climáticas em razão das evidências cada vez maiores sobre as graves consequências do aquecimento global, segundo um relatório divulgado na terça-feira (27) pela ONU - Organização das Nações Unidas.
Mas, mesmo que os países adotem medidas imediatas contra os gases do efeito estufa, as temperaturas continuariam subindo até 2050 devido às emissões de carbono acumuladas até agora, disse o Pnud - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento em seu relatório. Por causa disso, os desastres climáticos serão mais frequentes. "Todos os países terão de se adaptar à mudança climática", disse o Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU, divulgado na terça-feira em Brasília.
Um exemplo citado é Maasbommel, uma das várias cidades holandesas em áreas baixas, vulneráveis ao avanço de rios e do mar. Apesar do sofisticado sistema de diques, a população construiu 38 casas instaladas em fundações rasas, mas capazes de flutuar sobre grandes palafitas de aço.
No delta do Mekong (sul do Vietnã), uma das áreas mais suscetíveis do mundo às mudanças climáticas, a população também tenta se adaptar à perspectiva de mais enchentes resultantes de tempestades no mar do sul da China, durante a temporada de tufões. As pessoas têm recebido coletes salva-vidas e aulas de natação como parte de um programa patrocinado por ONGs.
O contraste entre as palafitas de bambu e os diques de terra do Vietnã e os avançados sistemas de defesa contra enchentes em Maasbommel ilustra como as mudanças climáticas reforçam as desigualdades globais, de acordo com o relatório do Pnud.
Enquanto nos países ricos a população pode contar com os investimentos públicos, nos países pobres as pessoas estão entregues à própria sorte. "Deixar os pobres do mundo afundando ou nadando por seus próprios e escassos recursos diante da ameaça representada pela mudança climática é moralmente errado", escreveu no relatório o arcebispo Desmond Tutu, vencedor do Prêmio Nobel da Paz.
Enquanto a Holanda tem 14 estações climáticas para monitorar o clima, na África a média por país não chega a uma estação. Apesar disso, alguns projetos em países em desenvolvimento mostram que algumas medidas de baixo custo podem ser decisivas. No Mali, por exemplo, a distribuição de informações sobre chuvas aos agricultores melhorou a produtividade.
O relatório do Pnud pede aos países ricos que honrem seus compromissos de ajuda contra a mudança climática nos países em desenvolvimento. Caso isso não ocorra, alerta o texto, os problemas de longo prazo podem ser ainda mais custosos mesmo para os países desenvolvidos, já que "a crise climática abre espaço para o desespero, a raiva e as ameaças coletivas à segurança", segundo Tutu.
(Estadão Online,
Ambiente Brasil, 28/11/2007)