A pesquisadora da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Michèle Sato, recomendou segunda-feira (26/11) no Seminário de Educação Socioambiental da Unicamp que, na selvageria e calmaria, ser Quixote sendo Sancho é o equilíbrio dinâmico. Michèle, que trouxe à luz alguns conceitos sobre educação socioambiental, disse que nesta questão é necessário ter vários olhares. "É ser um filósofo à vezes, pesquisador outras, educador outras ainda."
O evento, organizado pela Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac) e Centro Superior de Educação Tecnológica (Ceset), é coordenado pelo professor Sandro Tonso, do Coletivo Educador Ambiental de Campinas. Segundo ele, este primeiro evento busca reforçar os projetos já em andamento. Serão mostrados pelo menos 15 projetos ao longo do dia na sala PB-13 no Ciclo Básico II. O intuito é criar uma rede de educadores ambientais. O Ceset, desde 1998, tem um grupo de pesquisa sobre o tema, mas outros grupos estão espalhados na Unicamp. No Brasil, ele contou, são 180 coletivos. Já o II Seminário de Educação Socioambiental da Unicamp está previsto para meados de março e abordará os 15 anos do tratado da Educação Ambiental. O Grupo do Ceset reúne-se com outros interessados hoje (27/11), também na Universidade.
Para Michèle, ao se falar em educação, torna-se dispensável falar em 'ambiental'. Outra coisa: ao abordar a questão ambiental isso não implica somente relacioná-la à natureza. E outra coisa ainda: ao tratar de educação ambiental a questão social já deve integrá-la, esclareceu. A pesquisadora recordou que, na década de 60, vários movimentos no país, e fora dele, consolidaram a Contracultura. No Brasil, a Tropicália; na França, um movimento favorável à pílula anticoncepcional; na África, manifestações sobre raça e etnia; na Argentina, o líder Che Guevara; e na Inglaterra Pink Floyd protestando contra a rainha que promovia o corte de 35% da verba da educação para uso bélico. Em meio a uma grande revolução, surgia a educação ambiental.
Ambiente não é um mero qualificativo neutro da educação, disse Michèle. "Vivemos um tempo tirano ao qual nos acostumamos. Falamos de fast food, delivery, e-mail, etc. Isso imprime em nós um padrão. "Os títulos mais vendidos nas livrarias são hoje os de auto-ajuda e de marketing. Precisamos ganhar e informar. Neste ponto a pesquisadora lembrou do dilema das pessoas para a mineração da informação. "Existe um forte apelo à semiótica e ao consumismo", constatou.
De acordo com a pesquisadora da UFMT não há fórmulas prontas, mas disse que o ambientalismo sempre é palco de divergências, não de consenso. "Quando se fala em política pública, não podemos permitir que sejamos apenas sombras. Temos que participar de ações. Vamos construir uma travessia contra a pressa, a preguiça e poder saborear uma música, uma arte, mesmo com tentativas e erros", aconselhou.
(Por Isabel Gardenal, Jornal da Unicamp, 27/11/2007)