O novo relatório Cortina de Fumaça: Emissões de CO2 e Outros Impactos da Energia Nuclear, divulgado nesta segunda-feira (26/11) pela organização ambientalista Greenpeace a respeito da usina de Angra 3, foi avaliado como uma “informação distorcida” pelo superintendente de Licenciamento e Meio Ambiente da Eletronuclear, Yukio Ogawa. A estatal é responsável pela construção e operação das usinas nucleares de Angra 1 e 2 no Brasil.
Ogawa avaliou que há distorção nos dados apresentados, porque “eles [o Greenpeace] estão contabilizando todo o ciclo do combustível”. Para Ogawa, o mais correto seria verificar a emissão de gás carbônico a partir do momento que a usina começasse a gerar energia. Em entrevista à Agência Brasil, o superintendente da Eletronuclear afirmou que “se a gente comparar isso com as outras fontes de geração, nós ainda temos alguma vantagem”.
De acordo com o relatório, a usina de Angra 3 seria capaz de gerar emissões de gás carbônico equivalentes a 150 gramas por quilowatt hora, alcançando o máximo de 400 gramas por quilowatt/hora.
Yukio Ogawa analisou que a divulgação do estudo do Greenpeace objetiva “reduzir a vantagem competitiva [da geração nuclear] no caso das emissões”. Segundo ele, em comparação com a matriz térmica, a emissão de gás carbônico no ciclo nuclear, “mesmo comparando o ciclo completo, é bem abaixo do carvão mineral e continua abaixo do gás”. No carvão mineral, por exemplo, as emissões oscilam de 800 a 1,3 mil gramas de gás carbônico por quilowatt/hora.
Segundo o superintendente, não há perspectiva de remanejamento de populações para a retomada da obra e tampouco de vegetação.
“[Não haverá] nenhum impacto, porque nós estamos utilizando o mesmo sítio de Angra 1 e 2. Ela está dentro do mesmo sítio de 3,5 quilômetros quadrados da área industrial. Toda a área já tinha sido escavada no passado. Então, nós não temos, efetivamente, nenhuma realocação de população nem remoção de vegetação”.
Nessa fase, não há impacto ambiental, assegurou Yukio Ogawa. Ele esclareceu que “a única interferência foi feita no passado, quando estava em vigência o Acordo Brasil/Alemanha”. O acordo de cooperação bilateral foi firmado em junho de 1975, durante o governo Ernesto Geisel, e visava à implantação da tecnologia nuclear no Brasil.
O processo de licenciamento prevê uma compensação para possível impacto ambiental na região. Ogawa esclareceu, entretanto, que pela legislação em vigor, não há uma definição clara sobre a forma de quantificar uma compensação ambiental.
Ele revelou que, para os empreendimentos de grande porte, tem sido aplicado o percentual de 0,5% do valor do empreendimento como compensação ambiental. No caso de Angra 3, cujos investimentos previstos são de aproximadamente R$ 7,2 bilhões, essa compensação seria de aproximadamente R$ 36 milhões. Esses recursos devem ser transferidos para o Ibama.
Outras compensações estão previstas no processo de mitigação dos efeitos das obras e ocorreriam por meio de políticas de responsabilidade social da Eletronuclear na região. Ogawa enfatizou que a retomada de Angra 3 faz parte da política energética do governo. E salientou que “não cabe a gente ficar discutindo sobre a política nuclear brasileira. Esse é um ponto fora de discussão”.
(Por Alana Gandra, Agência Brasil, 26/11/2007)