As emissões de gases causadores do efeito estufa de 40 países industrializados ficaram perto do teto máximo histórico em 2005, porém, ao mesmo tempo vão sendo superadas as metas de redução do Protocolo de Kyoto, segundo um informe da Organização das Nações Unidas. As emissões desses gases, que segundo os cientistas são parcialmente responsáveis pelo aquecimento global, “diminuíram entre 1990 e 2000, mas voltaram a aumentar 2,6% entre esse ano e 2005”, disse Yvo de Boer, secretário-executivo da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática.
Estima-se que os países signatários do Protocolo de Kyoto terão reduzido em 11% suas emissões até 2012, em relação aos níveis de 1990, no caso de seus esforços terem os resultados esperados, destaca o estudo feito pela Convenção. Isto representaria um êxito significativo e mais do que duplicaria a meta de 5% adotada na cidade japonesa de Kyoto em 1997. “Para a totalidade dos que assinaram o Protocolo, reduções de 15% são possíveis se planejarem e praticarem novas políticas’, afirmou De Boer. “Mas, não devemos omitir que em várias nações as emissões continuam aumentando e que devem fazer mais para as controlar”, acrescentou.
Embora as medidas adotadas em Kyoto pareçam um grande sucesso, a causa de grande parte do total das reduções foi o colapso das economias dos ex-países comunistas da Europa central e oriental. Na Eslovênia, Eslováquia, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Polônia, República Checa, Romênia e Rússia as emissões caíram entre 20% e 25% em relação aos níveis de 1990. Mas, com o início da recuperação econômica voltaram a aumentar, o que contribuiu para elevar os níveis em 2005. Na Alemanha verificou-se uma queda de 19% em relação a 1990, em boa parte devido à severa recessão na ex-República Democrática depois da unificação. O estudo aponta entre os poucos casos de sucesso a Grã-Bretanha (que reduziu em 15% suas emissões), Dinamarca e Suécia (cerca de 8% nos dois casos).
Os totais dispararam nos países da Europa meridional que tiveram de enfrentar prolongadas ondas de calor e incêndios florestais. As emissões aumentaram 53% na Espanha, 43% em Portugal e 26% na Grécia, em relação a 1990. o panorama, seguramente, vai piorar quando forem computados os dados referentes a 2006 e 2007, devido ao recorde de incêndios que ocorreram no verão desses dois anos. Os Estados Unidos contaminaram 16% mais do que em 1990, enquanto o aumento chegou a 25% nos casos de Austrália e Canadá, o único entre esses três países que assinou o Protocolo de Kyoto.
A divulgação dos dados ocorre poucos dias antes da conferência das partes da Convenção Marco sobre Mudança Climática, da qual o Protocolo de Kyoto é parte. A reunião acontecerá em Bali, na Indonésia, entre 3 de 14 de dezembro. Este encontro, às vezes denominado Kyoto II, estabelecerá uma estratégia de dois anos para se alcançar um novo acordo internacional de redução de emissões para depois de 2012, data em que o Protocolo ficará sem efeito. Esse acordo recebeu numerosas críticas, muitas delas alimentadas pelo incessante questionamento da indústria do carvão e do petróleo aos fundamentos científicos da mudança climática.
Os questionamentos incluem acusações sobre o potencial do Protocolo de Kyoto para levar suas economias nacionais à bancarrota. Mas, seus defensores afirmam que, embora longe de ser perfeito, este documento continua sendo a melhor e única ferramenta para limitar as emissões de gases que formam o efeito estufa. “Kyoto não produziu reações que possam ser demonstradas”, escreveram os economistas britânicos Gwyn Prins e Steve Rayner na revista Natures. O Protocolo – acrescentaram – gerou um “mercado global de carbono”, no qual os países ricos que excedem em suas emissões podem compensá-las investindo em projetos que ajudem a controlá-las nas nações pobres e comprar certificados de redução.
Mas o preço é muito baixo para estimular quedas significativas ou investimentos em pesquisa e desenvolvimento de fontes alternativas de energia. De fato, segundo Prins e Rayner, “houve desde 1980 uma queda de 40%, em nível mundial, nos orçamentos governamentais para pesquisa e desenvolvimento no setor energético”. Gasta-se muito mais nessa área no setor militar: US$ 80 bilhões por ano somente nos Estados Unidos. Por outro lado, ambos propõem um enfoque em que cada país escolha a estratégia que melhor se adapte às suas circunstancias para limitar as emissões.
Qualificar os produtos de consumo segundo a contaminação que sua fabricação provoca e destinar fundos para adotar tecnologias mais limpas e torná-las mais eficientes são alternativas melhores do que a adoção de metas abstratas de redução, afirmaram. “Não temos tempo para começar de novo”, disse Jonathan Pershing, diretor do programa de clima e energia do Instituto de Recursos Mundiais, centro de estudos ambientalistas dos Estados Unidos. Adotar o Protocolo de Kyoto exigiu uma década de negociações. Embora Prins e Rayner reclamassem da comunidade internacional a coragem para se desfazer desse acordo, Pershing considerou que “simplesmente não é possível iniciar um novo processo a partir do zero”.
O presidente do Grupo Intergovernamental sobre Mudança Climática, Rajendra Pachauri, disse que o mundo tem apenas dois ou três anos para chegar a um consenso sobre como reduzir substancialmente as emissões. De acordo com Pershing, o Protocolo de Kyoto está longe de ser o ideal, mas se investiu muito nele. Entretanto, são necessárias melhorias e anexos, entre eles incentivos ao investimento em novas tecnologias, acrescentou. “Estamos trabalhando contra o relógio. Temos muito menos tempo do que pensamos”, ressaltou Pershing.
(Por Stephen Leahy, IPS, 26/11/2007)