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vazamento de petróleo
2007-11-27
O segundo acidente em um ano com um navio turístico na Antártida preocupa os países que integram o sistema de proteção e conservação da área, que reclamam com insistência punições nos casos de sinistros que causam contaminação. Foi o que disse à IPS Mariano Memolli, titular da Direção Nacional do Antártico, vinculado à chancelaria Argentina. “Estamos muito preocupados com a freqüência desses acidentes, mas os demais países, que também estão preocupados, demoram em assinar as normas que permitiriam uma proteção maior da região”.

O debate ressurgiu devido ao choque, na sexta-feira, do M/S Explorer, luxuoso navio de pequeno porte, com um iceberg perto das ilhas Shetland do Sul, ao norte da Península Antártida. A centena de passageiros e tripulantes foram resgatados em botes de borracha e a embarcação ficou inclinada em um ângulo de 45 graus. “O mais delicado aqui passa a ser a questão ambiental”, alertou Memoli. “Embora as eclusas onde se armazena o combustível permaneçam fechadas, será preciso retirá-lo e nunca se pode limpar tudo, por isso, embora reduzido, algum impacto haverá”, acrescentou.

O navio tem 185 toneladas de combustível e as primeiras estimativas coincidem em que rebocá-lo seria perigoso e antiecônomico. Por isso, estuda-se isolá-lo para conter um eventual vazamento e aspirar a maior quantidade possível de combustível. Memoli explicou que o óleo combustível é um produto leve que em sua maior parte evapora, mas o que fica é muito tóxico e solúvel em água. “Estamos falando de uma região com alto valor biológico onde há pingüins, focas, elefantes marinhos e diversos tipos de peixes e pássaros”, acrescentou.

O navio de bandeira liberiana, com 73 metros de comprimento por 14 de largura, foi construído na Finlândia e era operado pela empresa turística canadense GAP Adventures. Os náufragos foram resgatados em botes salva-vidas pelo navio norueguês Nord Norge, que os levou à base chilena Eduardo Frei para serem transportados por avião ao sul desse país. A maioria dos passageiros, que pagaram, em média, US$ 8 mil pelo passeio, era de britânicos, holandeses, norte-americanos e australianos.

A tripulante argentina Andréa Salas disse à uma emissora de rádio que não houve pânico no momento de abandonar a embarcação porque o tempo estava muito favorável, sem vento, mas o frio os afetou duramente durante as três horas em que permaneceram molhados nos botes salva-vidas em meio a fortes ondas. Segundo informou a imprensa canadense, o Explorer “bateu em um pedaço de gelo da ilha King George e o impacto causou no barco um buraco do tamanho de um punho”. O porta-voz da Marinha argentina, capital Juan Panichini, disse que a inclinação do navio era “critica” e que seu afundamento parecia “inevitável”.

Andréa Salas disse que as batidas com blocos de gelo “eram normais” e não alteravam a travessia, até que um grupo subiu até as cabines molhado e gritando “está entrando água”. então, foram informados que a embarcação havia batido em um bloco de gelo, que a situação estava sob controle mas que a evacuação seria imediata”. Este acidente é segundo que acontece este ano na Antártida. O primeiro aconteceu no final de janeiro, quando o navio norueguês Nordkapp encalhou com quase 300 turistas e 76 tripulantes na área rochosa Fossas de Netuno, na ilha Decepción, e deixou vazar cerca de 700 litros de combustível para motores diesel em uma área de orças e pingüins e cormorões.

O acidente anterior a estes dois remonta a 1989, quando o navio da Marinha argentina Bahia Paraíso, com turistas e cientistas a bordo, encalhou diante da ilha Anvers, perto da base norte-americana Palmer. O acidente deixou uma mancha de combustível de cem quilômetros quadrados e diversas espécies foram gravemente afetadas. Biólogos do Centro Austral de Pesquisas Científicas afirmam que, embora o continente de mais de 14 milhões de quilômetros quadrados seja um deserto gelado, nas costas abriga uma rica fauna e uma flora única de musgos e liquens que o ato de pisotear resulta muito prejudicial devido às más condições de reprodução.

Segundo a Associação Internacional de Operadores Turísticos na Antártida, que reúne as empresas que levam visitantes à região, desde as viagens isoladas feitas no final dos anos 60 até agora os passageiros aumentaram de menos de algumas centenas para mais de 32 mil. Os viajantes chegam de diversos países e partem em navio desde Ushuaia, capital da Terra do Fogo, a província mais austral da Argentina, mil quilômetros ao norte da Península Antártica. Os cruzeiros costumam percorrer algumas ilhas e são feitos avistamentos. Poucas vezes os passageiros desembarcam.

No entanto, o trânsito de embarcações em uma área rochosa, com deslocamentos de blocos de gelo e condições climáticas extremas (fortes ventos, grandes ondas e temperaturas abaixo de zero mesmo no verão) aumenta o risco de naufrágios e outros acidentes que, mesmo não sendo trágicos, deixam seqüelas. Esse é o ambiente que se busca preservar por meio de diversos instrumentos legais que integram o sistema antártico. O convênio-mãe he o Tratado Antártico. Com uma presença permanente de mais de cem anos no continente branco, a Argentina é um ativo signatário desse documento, assinado em dezembro de 1959 e em vigor desde 1961.

O acordo estabelece que a Antártida deve ser utilizada apenas com fins pacíficos. Os 28 países signatários se comprometem a promover na região a cooperação científica internacional, manter seu ambiente limpo e se abster de usar o continente para bases militares ou testes de armas. Para reforçar especificamente a proteção ambiental, em 1991 esses países impulsionaram o Protocolo de Madri e em 2005, devido ao auge turístico na região, acrescentaram um anexo de “Responsabilidade surgida de emergências ambientais”, que ainda não entrou em vigor à espera de ser ratificado por todos.

Esse documento, cuja vigência é reclamada pelos integrantes do sistema antártico, tem o objetivo de “prevenir, reduzir ao mínimo e conter o impacto ambiental”, dos acidentes ao exigir dos operadores turísticos que estejam preparados para adotar “ações de resposta rápidas e eficientes” em caso de acidente. Se não o fizerem, está previsto que o responsável “pague uma importância que reflita de maneira mais fiel possível os custos das ações” que deverão ser tomadas pelos Estados para o saneamento. Também se propõe criar um fundo que administre a secretaria do Tratado, com sede em Buenos Aires, para financiar essas ações.

(Por Marcela Valente, IPS, 26/11/2007)



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