Prevenir a poluição é gerenciar de forma interconectada, diz expert norte-americano
gestão ambiental
2007-11-26
Conhecida nos Estados Unidos como P2, a prevenção da poluição é definida como "qualquer prática que evite, elimine ou reduza qualquer poluente prioritariamente à reciclagem, tratamento ou disposição". Ela foi o tema da palestra de abertura do 1º Workshop Internacional em Avanços na Produção Mais Limpa realizado entre 21 e 23 de novembro, na sede da Universidade Paulista (Unip), em São Paulo (SP). O diretor-executivo da entidade nacional de prevenção da poluição dos EUA (National Prevention Pollution Roundtable, NPPR) desde agosto de 2003, Jeffrey Burke, não tem dúvida da complexidade que envolve a questão. Citando Albert Einstein, ele lembrou, na conferência inaugural, que "os problemas significativos que temos não podem ser resolvidos ao mesmo nível de pensamento com que os criamos". Burke, responsável pela supervisão do orçamento, das atividades, da coordenação dos grupos de trabalho e da promoção da prevenção da poluição na NPPR, trabalhou como executivo na Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (Environmental Protectioin Agency, EPA) por 24 anos, até janeiro de 2004, quando se aposentou. Atuou em treinamentos de prevenção da poluição em países como Polônia, África do Sul, China, Tailândia, Dubai e Omã.
Desde 1999, quando teve início o NPPR, foram produzidos dois relatórios com resultados da ação da instituição. Eles mostram que foi evitada a geração de 175 bilhões de gramas de resíduos; foram economizados 217 milhões de quilowatts hora em energia; conservados 4 bilhões de galões de água. Tudo isto significou uma economia de US$ 1,2 bilhão em custos diretos. "Mas o sucesso do passado não garante o do futuro", prognosticou, ao mostrar exemplos de iniciativas empresariais que estão conseguindo chegar quase ao nível de não-geração de resíduos, como é o caso da Du Pont.
No governo, Burke citou o caso da EPA, onde se conseguiu cortar à metade os gastos com folhas de papel. "Eram consumidas 14 mil folhas de papel por ano por pessoa, em seis meses baixamos para 50%", disse. Desde 2000, também na Agência Ambiental Americana, caiu em 35% o total de cópias feitas em papel; os gastos com eletricidade declinaram 25%, e o consumo de água, 45%.
No final de sua palestra, Burke, ou Jeff, como é mais conhecido, concedeu a seguinte entrevista exclusiva ao AmbienteJÁ.
AmbienteJÁ – Os Estudos de Impacto Ambiental são pautados por princípios como sustentabilidade e interdisciplinaridade, conforme indicado na lei que os criou, o National Environmental Policy Act (NEPA), de 1969. Contudo, o que se observa é a não-aplicação desses princípios. Como se poderia fazer o caminho de volta, reincorporando-os à prática dos EIAs?
Jeffrey Burke – Entendendo o gerenciamento dos recursos naturais, que inclui todos os aspectos do que causa a poluição. Os cinco valores que devem ser gerenciados (financeiros, de produção, da comunidade, naturais e pessoais), e os três pilares da sustentabilidade (econômico, social e ambiental) estão todos conectados. Você precisa que as pessoas entendam que não se pode simplesmente gerenciar um único recurso da organização, quer seja uma indústria, ou universidade, ou qualquer outra organização. Tudo deve ser gerenciado como parte e deve haver o entendimento de seus impactos como um sistema interconectado.
AmbienteJÁ – O Sr. acredita que a sustentabilidade pode ser vista como um sistema abstrato ou somente contextualizada em cada caso?
Burke – Há exemplos de organizações que estão fazendo isto, e fazendo de forma bem-sucedida. E estamos começando a aprender mais e mais sobre isto, mas leva tempo. Há algumas companhias, por exemplo, 3M, que vêm trabalhando em prevenção da poluição por 30 anos. Vêm trabalhando na sustentabilidade por um longo tempo.
AmbienteJÁ – Já se passaram quase 40 anos da vigência da lei do NEPA. O Sr. acredita que houve algum tipo de aprendizagem por parte das pessoas que elaboram esses estudos?
Burke – Bem, a Lei do NEPA, nos Estados Unidos, teve foco principalmente na proteção do habitat, e não se preocupou com o que as companhias privadas estavam fazendo. A lei, nos Estados Unidos, somente direcionou o que o governo federal estava fazendo. Assim, se o governo federal constrói estradas, ou provê dinheiro para subprojetos, é isto que está na mira da lei. Isto não tem a ver com o que acontece em fábricas, individualmente, ou em organizações privadas.
(Por Cláudia Viegas, AmbienteJÁ, 26/11/2007)