O rótulo de produto orgânico está associado mais diretamente à produção de alimentos vegetais e animais, in natura ou processados, sem o uso de produtos químicos como adubos, herbicidas, pesticidas, conservantes, aromatizantes e corantes artificiais. Em criações de aves e animais, isso também inclui o uso de hormônios sintéticos e, como rotina, de antibióticos preventivos.
Entre os objetivos apontados pelos movimentos orgânicos estão a produção de alimentos mais saudáveis para quem os consome, além da preservação do meio ambiente e a garantia da sustentatibilidade dos processos, da saúde e dos direitos das pessoas que os produzem, embalam, transportam e vendem, além da saúde do consumidor.
Os movimentos orgânicos nasceram principalmente na Europa no início do século passado como reação aos métodos utilizados na agricultura, que foram intensificados principalmente para ampliar a produção de alimentos durante as duas grandes guerras. Segundo os movimentos, esses métodos afetavam o solo e o meio ambiente. Nos anos 80, as correntes ganharam força com a ascenção dos movimentos ambientalistas, dos partidos verdes e de crises de contaminação de alimentos na Europa.
A partir da década de 1990, uma das principais bandeiras de luta mundiais dos movimentos orgânicos foi contra a disseminação de plantios transgênicos, pois, segundo os defensores, o polén de transgênicos que os possuem se hibridizam com as matrizes naturais, o que compromete o futuro dessas matrizes (mudas e sementes) e compromete ou destrói as plantações dos agricultores orgânicos.
Fazem parte das propostas orgânicas priorizar o consumo de alimentos produzidos localmente e respeitar as épocas próprias de plantio e colheita dos alimentos, o que contribui para diminuir o desperdício e o transporte desnecessário de alimentos, in natura ou congelados, por navios e aviões, que agravam o consumo de energia e a emissão de gases do efeito estufa.
As principais correntes de alimentos sem agrotóxicos Orgânica - Corrente dominante na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, formulada na Inglaterra por Albert Howard, sobre os métodos naturais de agricultura e criações utilizados na Índia, a partir de 1905. Procura preservar tudo no meio ambiente, inclusive os insetos.Trabalha com cultivos integrados, adubos compostados, estercos animais e compostos minerais. Ela utiliza rotineiramente caldos vegetais para combater pragas, mas permite o uso de remédios e outras substâncias químicas, para combater tanto pragas quanto doenças, sob acompanhamento, quando necessário para salvar as plantas e os animais. Possui associações certificadoras em alguns estados do país, com ou sem reconhecimento de certificadoras internacionais, como as de São Paulo (AAO), do Rio de Janeiro (Abio), de Santa Catarina (Aorgânica) e do Paraná (Aaopa).
Biodinâmica - Formulada a partir de 1924 na Alemanha pelo austríaco Rudolf Steiner, criador da Antroposofia. Define como tese que a terra é um organismo vivo que possui forças imateriais. A Biodinâmica utiliza nos cultivos compostos líqüidos feitos com ervas, esterco e sílica e preconiza que estes equilibram solos, plantas e animais entre si. Possui um selo internacional de certificação própria, da Demeter. No Brasil, sua certificadora é o Instituto Biodinâmico, com sede em Botucatu, SP.
Bio-orgânica ou Biológica – Escola que surgiu na Suíça, na década de 1950, pelo agricultor Hans Müller (austríaco) e por sua mulher, Maria Müller. É forte na Alemanha e na Suíça e sua base inicial é a proposta de agricultura biodinâmica alemã, complementada posteriormente pelos estudos e avanços em microbiologia do solo.
Natural – Foi formulada pelo filósofo Mokiti Okada, fundador da Igreja Messiânica Mundial na decada de 1930, no Japão. Ela considera o solo um organismo vivo e a água um elemento essencial do ciclo da natureza. Essa corrente recicla os recursos naturais, produz seus próprios adubos e proíbe o uso de qualquer tipo de esterco. No Brasil, é impulsionada pela Fundação Mokiti Okada, certificadora fundada em 1971, e pela Korin Agricultura Natural Ltda., maior produtora de “frangos verdes”, ou seja, criados de forma mais saudável.
Permacultura – Corrente que defende culturas permanentes, autosustentáveis e integradas ao meio ambiente, criada na Austrália nos anos de 1970 pelo biólogo Bill Mollison. Propõe que o agricultor produza todos os materiais de que necessita, dos insumos da terra à energia. O Brasil é um dos maiores campos de aplicação de permacultura no mundo, com experimentos e entidades nos diferentes ecossistemas, com institutos de Permacultura ou de Permacultura e Ecovilas no Cerrado (Ecocentro-Ipec), Mata Atlãntica (Ipema), Rio Grande do Sul (Ipers), Amazônia (Ipapermacultura).
Regulamentação de produtos orgânicos pode ampliar vendas, defende especialista As empresas, cooperativas e certificadoras de produção orgânica que atuam no Brasil esperam que a definição da rotulagem dos produtos ajude a orientar o consumidor na hora da compra e que isso contribua para aumentar as vendas, como ocorreu na Europa, nos anos de 1990.
Em entrevista à Agência Brasil, o diretor da certificadora Instituto Biodinâmico, também presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtora de Agricultura Orgânica, José Pedro Santiago, disse que é “fato conhecido que logo em seguida à adoção de legislações nacionais, as vendas de orgânicos deram um salto nos respectivos países”.
Segundo dados da Câmara de Comércio Exterior (Camex), as exportações brasileiras de orgânicos chegaram a US$ 5,5 milhões de agosto de 2006 a janeiro de 2007. Segundo a Associação de Comércio Orgânico (OTA, sigla em inglês), no mesmo ano, os Estados Unidos faturaram US$ 17 bilhões, e a Europa, US$ 15 bilhões. De acordo com o Instituto de Pesquisa de Agricultura Orgânica (FIBL, sigla em alemão), em 2004 o consumo anual per capita de produtos orgânicos em euros foi estimado em € 97 para os suíços, € 35 para os norte-americanos e apenas 1 € para os brasileiros, por exemplo.
O principal relatório do setor, O Mundo da Agricultura Orgânica 2007 (The World of Organic Agriculture 2007), feito pela Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica (Ifoam, sigla em inglês) registra que o “Brasil é provavelmente um exemplo isolado de apoio para a agricultura orgânica em nível nacional, com uma junção de esforços dos ministérios do Desenvolvimento Social, Agricultura e Meio Ambiente, com compreensão das vantagens ecológicas e sociais da produção orgânica”. O relatório destaca o desenvolvimento do plano de apoio técnico e financeiro à agricultura familiar, caracterizada pela produção de produtos orgânicos.
(Por Paulo Montoia,
Agência Brasil, 24/11/2007)