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extinção de espécies sustentabilidade e capitalismo
2007-11-26
Um conto sobre um habitante da floresta e um tigre parece uma fábula indiana antiga, uma parábola do homem contra a fera, transmitida por gerações e adaptada por Kipling para o consumo Ocidental. Esta história, entretanto, está se desenrolando hoje, na medida em que o governo da Índia procura proteger a população decrescente de tigres de Bengala enquanto respeita os privilégios do homem.

A Índia tem quase metade da população de tigres do mundo, estimada em 3.500. No entanto, em um país onde a população humana inchou para mais de 1,1 bilhão -cuja maior parte vive com menos de US$ 2 por dia- o governo também está concentrado em expandir a economia e reduzir a pobreza. O parlamento indiano recentemente aprovou uma lei que protege o direito dos moradores da floresta de permanecerem em suas terras e pode permitir a volta de centenas de milhares de pessoas que abandonaram suas moradias na floresta há décadas.

Os ambientalistas temem que a nova lei -conhecida como Ato dos Direitos dos Habitantes das Florestas e que deve entrar em vigor nas próximas semanas- abra os portões dos parques nacionais da Índia e reverta décadas de progresso na preservação das florestas cada vez mais reduzidas do país e dos tigres que nelas habitam.

"A economia é prioridade agora, e todo o resto pode ir para o inferno", diz Valmik Thapar, conservacionista e autor que há mais de uma década expõe a luta dos tigres criticamente ameaçados da Índia. Na medida em que cada vez mais árvores das florestas da Índia são derrubadas para extração de madeira ou viram fazendas para alimentar sua população humana sempre crescente, o número de tigres mergulhou de 40.000, em 1925, para menos de 1.500 hoje, um número que alguns especialistas dizem estar passando do ponto de reversão para a extinção.

Muitos hindus cultuam os tigres, e a proteção do animal há muito é uma meta nacional. No Estado do Rajastão, no Noroeste, o Parque Nacional de Ranthambhore atrai dezenas de milhares de turistas por ano, que buscam um vislumbre dos gatos ariscos, listrados de laranja e preto. Ele é o centro de um turismo crescente, que traz mais de US$ 22 milhões (cerca de R$ 44 milhões) por ano, incluindo ao menos US$ 300.000 (aproximadamente R$ 600.000) em entradas do parque.

A tensão em torno do Ato dos Habitantes da Floresta, entretanto, é clara aqui também. Cerca de 200.000 aldeões vivem nos limites do parque nacional, muitos ex-moradores da floresta. Eles foram estimulados a sair nos últimos 30 anos com promessas de escolas, clínicas e eletricidade -tudo parte de um programa do governo para proteger o habitat do tigre.

"Hoje, a maior parte esqueceu-se de como é morar na floresta. Somos agricultores agora, não caçadores", disse Chittat Gurjer, 67, homem magro com um turbante branco. Outra moradora da região, Kastori Gurjar, 78, disse que nunca teve a intenção de voltar a viver na floresta. Mas ela queria poder fazer visitas. "Queremos apenas ter permissão de entrar e adorar nossos deuses, que ficaram na floresta", disse ela, com lágrimas nos olhos ao lembrar sua infância nas florestas fechadas do parque.

Os direitos dos moradores da floresta na Índia precisam ser protegidos, dizem os defensores da lei. Segundo a mídia indiana, milhares de moradores de florestas foram despejados e muitas comunidades violentamente molestadas nas últimas semanas, o que alguns analistas dizem ser um esforço para limitar o número de pessoas que podem pedir o direito à terra.

Ambientalistas e especialistas em vida selvagem estão fazendo lobby no parlamento e na justiça para derrubar a lei, considerada uma medida populista em preparação para as eleições do próximo ano. "Ninguém no parlamento pode dizer não a essa legislação. Faz parte da noção romântica da Índia que os moradores da floresta vivem em harmonia com a terra", disse Goverdhan Singh Rathore, cuja agência não governamental, Prakratik Society, fornece educação e saúde para muitos dos aldeões que foram habitantes das florestas.

"Isso talvez fosse verdade no passado, mas a realidade agora é que, se os moradores da floresta e outros com direitos históricos à terra tiverem permissão de voltar aos parques nacionais, as florestas da Índia vão sumir logo e, com elas, os tigres", disse Rathore. Hotéis de luxo e ecológicos brotaram nos limites do Parque Nacional de Ranthambhore. Os turistas enchem os jipes sem teto e ônibus que atravessam estradas de terra por quase 780 km quadrados de floresta, encontrando macacos 'langur', veados do tamanho de alces chamados 'sanbar' e lagartos que correm para a mata quando o carro passa.

Mas aqui, como no resto da Índia, as chances de avistar um tigre estão caindo. Ao menos quatro das 27 reservas de tigres da Índia não têm mais tigres. Alguns observadores acreditam que outras nove reservas da Índia também correm o perigo de perder seus últimos tigres para caçadores ou aldeões, que jogam carcaças envenenadas para matar os animais que se aventuram para fora dos limites das reservas e atacam seus rebanhos.

O Ministério do Meio Ambiente da Índia anunciou planos no início do mês de recrutar soldados da reserva para reforçar patrulhas nos santuários dos tigres do país. Os caçadores deixaram apenas cerca de 34 tigres no Parque Nacional de Ranthambhore -ninguém sabe o número exato. Em 2005, os caçadores confessaram ter abatido 22 dos tigres do parque, o que provocou novas acusações de incompetência e corrupção contra os guardas florestais e autoridades do governo.


(Por Raymond Thibodeaux, Cox Newspapers, tradução de Deborah Weinberg, UOL 24/11/2007)


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