O cemitério da Consolação (região central de São Paulo) corre o risco de perder 45 árvores. O local, o primeiro cemitério da cidade e que possui obras de arte, é tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) por seu valor artístico e cultural.
A Secretaria do Verde e do Meio Ambiente já autorizou o corte. Segundo Marcelo Cocco Urtado, diretor da divisão de proteção e avaliação ambiental da pasta, as árvores representam um risco à população (galhos caem nas calçadas).
Ele diz que boa parte das árvores são figueiras e que também há quaresmeiras --com idade entre 40 e 50 anos e altura média de 15 metros.
Quem passa pelo local nota que as árvores estão secas. Há duas hipóteses para a morte das espécies: a presença de fungos, notado em metade delas, ou o envenenamento. "Faltam elementos, então não posso afirmar que não teve [envenenamento], nem que teve. Era preciso ter analisado antes. Agora, depois de "queimado", fica muito difícil", diz.
O Ministério Público Estadual acompanha o caso. A reportagem procurou o Condephaat, mas não houve resposta até o fechamento desta edição.
Serviço Funerário O Serviço Funerário do município nega a hipótese de envenenamento e diz que "as árvores já estavam mortas há mais de cinco anos". "Se existissem [notícias de suposto envenenamento], seriam adotadas averiguações e medidas punitivas", afirma.
O Serviço Funerário não respondeu se foram tomadas medidas preventivas para evitar doenças e a morte das espécies. Afirma, entretanto, que "solicitou análise técnica e, ao constatar que a situação era irreversível", fez o pedido de remoção das árvores.
Após finalização do estudo fitossanitário, a secretaria do Verde determinará quais espécies serão replantadas no local. A data do corte ainda não foi definida e depende de agendamento com a Subprefeitura da Sé e o Corpo de Bombeiros.
História O cemitério da Consolação abriga cerca de 8.500 túmulos, dos quais mais de 200 são considerados de grande valor histórico e artístico.
Os túmulos de Monteiro Lobato, da Marquesa de Santos, de Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Ramos de Azevedo, entre outros, estão no local.
Foi nesse cemitério que Victor Brecheret esculpiu, em 1923, uma Pietá com quatro Marias, "Sepultamento".
O tombamento ocorreu em julho de 2005, mês em que o cemitério completou 147 anos.
(Afra Balazina, Folha Online, 25/11/2007)