O fato de a Amazônia absorver grandes quantidades de carbono da atmosfera não pode ser usado pelo Brasil como argumento para não reduzir suas emissões, segundo o especialista Luiz Gylvan Meira Filho, do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP).
A única solução real para as mudanças climáticas, disse, é diminuir a quantidade de gases do efeito estufa que é lançada na atmosfera. O principal desses gases é o dióxido de carbono (CO2).
Reportagem publicada ontem na revista Grandes Reportagens: Amazônia, do Estado, revela que a floresta tem capacidade para retirar da atmosfera quantidades significativas de carbono. Grandes o suficiente até mesmo para compensar todas as emissões de carbono do Brasil, segundo estimativas preliminares do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA).
Trata-se, porém, de um processo natural: o carbono é incorporado aos tecidos vegetais de plantas em crescimento pela fotossíntese. Por isso, pelos acordos internacionais, o carbono que é "seqüestrado" pela floresta não pode ser contabilizado para abater a contribuição do Brasil ao aquecimento global. Segundo Gylvan, o planeta emite por ano aproximadamente 7 bilhões de toneladas de carbono. Desse total, 2 bilhões vão para os oceanos, 2 bilhões vão para a biosfera (incluindo as florestas) e 3 bilhões ficam na atmosfera - que é o que está causando o acúmulo responsável pelo aquecimento global.
"A única solução é reduzir as emissões antrópicas (causadas pelo homem), e não ficar pedindo crédito pelo que a natureza faz", afirma Gylvan.
SERVIÇOS AMBIENTAISOutros pesquisadores também ressaltam que quantificar o carbono absorvido pela Amazônia é importante para valorizar os serviços ambientais da floresta e reforçar medidas de conservação, mas não pode ser usado como desculpa para uma inação no combate às mudanças climáticas.
O papel da Amazônia no cenário climático global será um dos principais temas na agenda do Brasil para a próxima Conferência das Partes (COP 13) da Convenção do Clima, que começa dia 3 em Bali, na Indonésia. O Brasil vai pleitear que os países desenvolvidos ajudem a financiar a redução do desmatamento, como forma de reduzir emissões (o desmatamento é responsável por 75% do carbono emitido pelo País).
"É mais um elemento que reforça a importância dos serviços ambientais prestados pela floresta", disse o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, sobre a capacidade da Amazônia de absorver carbono da atmosfera.
Medições feitas nos últimos dez anos pelo LBA indicam que a Amazônia inteira tem capacidade para retirar da atmosfera entre 300 milhões e 600 milhões de toneladas de carbono por ano. Os números são preliminares e baseados em extrapolações, a partir de medições localizadas. Mesmo com as margens de erro, entretanto, as ordens de grandeza demonstram claramente a importância da floresta nas mudanças climáticas - tanto como sorvedouro (pela conservação) quanto fonte de emissão (pelo desmatamento), segundo o diretor do Comitê Científico Internacional do LBA, Mateus Batistella.
(Herton Escobar,
O Estado de São Paulo, 26/11/2007)