A agressão ambiental, a degradação do conhecimento e os efeitos dos pesticidas organoclorados sobre a saúde foram os principais temas durante o VIII Seminário Internacional e IX Seminário Estadual sobre Agroecologia de terça-feira (20/11), no Auditório Dante Barone da Assembléia Legislativa em Porto Alegre. Os eventos aconteceram até o dia 22, quinta-feira. Na quarta-feira (21/11), os sub-temas apresentados e debatidos no evento serão Mudanças Climáticas e Formação Socioambiental.
Durante a apresentação de Sebastião Pinheiro, do Núcleo de Economia Alternativa da Ufrgs, foi questionada a busca desenfreada pelo lucro. O palestrante apresentou a evolução histórica dos agrotóxicos e observou que enquanto a moda é discutir as mudanças climáticas, as pessoas não se dão conta de que o sistema está montado de forma a não se perceber a realidade. “Desde o começo da utilização de agrotóxicos, em 1964 com a Ditadura Militar, já são seis mil mortos e 800 mil intoxicados por ano. Não existe veneno seguro em nenhuma quantidade, porém não há espaço para se falar contra. As empresas pagam em forma de anúncio para calar a imprensa”, avalia.
Pinheiro destaca ainda que um dos maiores problemas é que, depois de se alimentar do leite, o ser humano tem o seu sustento baseado nas sementes, no entanto, elas deixaram de ser um patrimônio das comunidades para pertencerem a empresas que cobram pelo seu uso. "Eles são donos e temos que pagar para comer”, conclui.
Já a doutora María José Lopez Espinosa da Universidade de Granada, na Espanha, ressaltou em sua palestra que todos nós temos pesticidas em nosso organismo e que o residual altera os processos biológicos normais, tanto em animais como no ser humano. A conclusão da pesquisadora, a partir de estudo feito com 160 mulheres grávidas, é de que o organismo acumula compostos mais rapidamente que os elimina.
Essa acumulação acontece através da água, da comida, do leite materno e também pela exposição ocupacional. “O efeito é percebido no embrião, no feto e no recém nascido, uma vez que as substâncias passam pela placenta que retém o pesticida”, denuncia a pesquisadora, ao comparar o resultado encontrado em sua pesquisa com estudos similares realizados no Brasil e em outros países europeus.
María José aponta ainda que o câncer, casos de aborto, retardo no crescimento intra-uterino, hipospádia (má formação congênita do aparelho urinário) e criptorquidia (condição médica na qual não houve uma descida correcta do testículo da cavidade abdominal para o escroto), danos neurológicos e capacidade mental diminuída em crianças, estão relacionados com os efeitos dos pesticidas no ser humano e no meio ambiente.
(Emater/RS-Ascar,
Eco Agência, 21/11/2007)