A infiltração e o armazenamento da água no solo é a chave da sustentabilidade da água no Planeta. A afirmação é de Afrânio Almir Righes, da Universidade Franciscana de Santa Maria, que palestrou sobre Ações Antrópicas e a Infiltração de Água no Solo, durante o VIII Seminário Internacional e IX Estadual sobre Agroecologia. Para Righes, “devemos olhar muito e aprender com a natureza”. A palestra integrou o sub-tema Mudanças Climáticas, abordado de manhã. À tarde, o sub-tema desta quarta-feira será Formação Socioambiental.
Durante a palestra, Righi apresentou o volume de água necessário para a produção de um quilo de batata (500 litros), trigo (900 litros), sorgo (1.100 litros), soja (1.650 litros) e de arroz (1.900 litros, considerando 1,3 litros de água por hectare cultivado), e comparou com um quilo de galinha (3.500 litros de água, considerando desde a produção até a limpeza dos aviários e frigoríficos) e de carne bovina que, para produzir um quilo, consome 15 mil litros de água. “Quando compramos carne, levamos junto a água utilizada em todo o processo de produção”, observa, ao salientar que para a produção de um quilo de papel são necessários 324 litros de água.
A irrigação foi um dos focos abordados por Righes. Em 1950, o mundo tinha 95 milhões de hectares irrigados. Já em 1980, eram 250 milhões de hectares irrigados. “Ou seja, da terra cultivada no mundo, 18% é irrigada e, para 2025, a área poderá atingir 28%”, analisa o palestrante, ao questionar que a quantidade de água será a mesma para atender ao necessário aumento da produção de alimentos.
Sobre as ações naturais e antrópicas sobre a água, Righes afirma que a infiltração é o ponto mais importante do ciclo hidrológico, pois a água que somente escoa, sem infiltrar no solo, não alimenta vertentes nem plantas. Para ele, o aumento populacional é a principal ação antrópica, por forçar um aumento da produtividade média de 2,9 toneladas de grãos por hectare, registrada no ano 2000, para 4,5 toneladas por hectare em 2025, quando o mundo terá mais de oito bilhões de habitantes.
Alternativas ao solo secoO desmatamento é a principal causa para a falta de água inflitrada no solo, inclusive no solo gaúcho. De acordo com Righes, na década de 40 o Rio Grande do Sul tinha uma cobertura vegetal nativa de 46%. Na década de 90, o índice caiu para 5,6% de cobertura vegetal nativa. Já no ano 2001, a partir de campanhas de reflorestamento, o índice subiu para 17,53%. “Está melhorando a situação de cobertura florestal nativa no Estado”, comemora. “Com a retirada da cobertura do solo com o desmatamento, desprotegemos o solo, que vai embora com a chuva”, diz Righes, que também cita problemas como queimadas, erosão e assoreamento dos rios. “No RS, áreas com plantio direto estão perdendo solo e, com ele, nutrientes como fósforo e potássio”, afirma o palestrante, ao afirmar que o solo está seco.
Para reduzir o impacto da água no meio rural, Righes apresentou, como alternativas, o chamado melching vertical, que está sendo testado na região de Passo Fundo, num projeto integrado entre UFSM, Embrapa e Semeato. “Com esse sistema, toda a água que sobra no solo, infiltra”, explica Righes ao destacar que essa experiência está utilizando calhas coletoras de água. Outras alternativas sugeridas são faixas de controle nas lavouras, áreas de detenção de água em rodovias (desenvolvida no Paraná) e barragens subterrâneas (Nordeste), além de aumentar a eficiência da irrigação, a partir de técnicas mais viáveis.
O meio urbano, para Righes, também pode contribuir com a redução do impacto do desperdício de água. Como alternativa, ele cita os pisos permeáveis, os tanques subterrâneos (como os construídos em São Pedro do Butiá) e o reuso da água nas residências, escolas e condomínios. Na cidade gaúcha de Santa Maria, Righes coordena um projeto de análise de diversas situações de infiltração e captação da água da chuva. O estudo é realizado com os alunos da Escola Municipal João Menna Barreto.
ParticipaçãoPara Righes, o RS não sofre com a falta de água, até porque a precipitação média é de 1.700 mm de chuva por ano. “Não é falta de água, mas o problema é que não a usamos nem a armazenamos bem”, afirma, “e não adianta só multar ou taxar”. Por isso, entre as recomendações de Righes para a conservação da água estão a ampliação da capacidade de armazenamento da água da chuva em reservatórios, garantindo a disponibilidade em períodos de estiagem, reduzindo ainda as cheias no inverno; o aumento da capacidade de infiltração da água no solo; e a redução do escoamento superficial. A longo prazo, ele sugere campanhas de educação ambiental para a redução da emissão de poluentes nos rios e lagos.
A participação nos Comitês de Gerenciamento de Bacias Hidrográficas é defendido por Righes. “Governos, gestores de meio ambiente e população devem discutir e definir práticas e técnicas para atender às necessidades da agricultura”, destaca, ao afirmar que a alternativa mais concreta a curto prazo é aumentar a infiltração da água no solo. Os eventos foram promovidos pela Emater/RS-Ascar, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Assembléia Legislativa e Governo do Estado do Rio Grande do Sul, com o apoio de mais de 15 entidades governamentais e não-governamentais.
(Emater/RS,
Eco Agência, 23/11/2007)