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consumismo sustentabilidade e capitalismo
2007-11-26
O ecólogo e pesquisador Bernardo Reyes Ortíz palestrou durante o VIII Seminário Internacional e IX Seminário Estadual sobre Agroecologia, realizado na capital gaúcha. Ortíz é pós-graduado em Estudos Sociais e Desenvolvimento na Holanda, professor e pesquisador de Economia Ecológica no Chile, diretor de Ética de Florestas da ONG Forestethics (http://www.forestethics.org), trabalha com Indicadores de Sustentabilidade no Instituto de Ecologia Política do Chile e, de forma particular, trabalha na Rede de Cuidadores de Sementes em Santiago, também no Chile.

A aplicação da fórmula da chamada Pegada Ecológica está sendo pesquisada e sistematizada para ser aplicada nos distintos públicos, países e regiões. De acordo com Ortíz, o objetivo da sustentabilidade é assegurar o bem-estar das pessoas e uma maior segurança das sociedades humanas. “Isso significa proteger o patrimônio ecológico comum da sociedade e eliminar o endividamento ecológico de maneira efetiva e justa, para que possamos viver dentro das capacidades naturais da Terra, proporcionando o atendimento de nossas necessidades”, explica o ecólogo.

Para Ortíz, o Planeta é tido como um abastecedor de recursos, com uma capacidade bioprodutiva de 14,1 bilhões de hectares ou seja, 18% da Terra é biologicamente produtiva. Assim, cada pessoa possui 1,8 hectare global de Pegada Ecológica (quase dois campos de futebol), “independente se é preto, branco, da Suíça ou do Brasil”, analisa Ortíz.

Sobre esse valor, Ortíz agrega a necessidade de pelo menos 12% do território ser destinado exclusivamente à conservação. “Como a Pegada Ecológica é uma medida de quanto de natureza temos e quanto usamos, devemos agregar todas as áreas necessária para atender as nossas necessidades”, antecipa o pesquisador, ao destacar que “precisamos parcelas de território para compensar o que é retirado e consumido do Planeta, de uma proporção para absorver o lixo e também de uma parcela de solos bioprodutivos para nossa alimentação”.

Demanda x Oferta
Enquanto na teoria cada habitante da Terra possui 1,8 hectare bioprodutivo, a demanda atual global total per capita é de 2,22 planetas. Isso porque consumimos 0,52 hectares de cultivos, 0,10 hectares de pastoreio, 0,10 hectares de infra-estrutura, 1,07 hectares para capturar excesso de CO2, 0,13 hectares de captura de peixes e 0,30 hectares de produção de madeira e lenha. “Estamos usando mais do que o Planeta pode suportar”, anuncia Ortíz.

No mundo, dados de 2003 sobre procura e oferta ecológica indicam que o mundo tem uma pegada ecológica total de 14.073 milhões de hectares globais, sendo de 2,2 hectares por pessoa de Pegada Ecológica. A biocapacidade global por pessoa é de 1,8 hectare, o que gera um déficit global por pessoa de 0,4 hectare.

No caso do Brasil, dos 383 milhões de hectares, 2,1 hectares registram a Pegada Ecológica por pessoa para uma biocapacidade de 9,9 hectares por pessoa, o que resulta numa reserva ecológica de 7,8 hectares por pessoa. “O Brasil é um país rico e com potencial para superar a pobreza”, destaca Ortíz, ao recordar que a Pegada tenta integrar a biocapacidade natural do Planeta com os padrões de consumo, reservando 12% dos solos para manter a capacidade bioprodutiva das outras espécies.

Em seguida, Ortiz apresentou gráficos que confirmam que “a partir dos anos 70 começamos a usar todos os recursos do Planeta”. Isso sem falar na acelerada extinção das espécies e no aumento do uso da água na agricultura, onde é contabilizada que 80% das extrações mundiais de água. Além disso, o crescimento maior da Pegada Ecológica no mundo é a demanda da biocapacidade de energia através da queima de combustíveis fósseis.

Renovação
O pesquisador observa que “hoje superamos a biocapacidade de uso de 1,2 Planeta”. Isso porque a demanda atual é 20% a mais do que a capacidade de renovação do Planeta. “Esse cenário gera uma dívida ecológica, paga pelas populações menos favorecidas”, analisa. Para Ortíz, é possível eliminar os excedentes e viver dentro da biocapacidade produtiva do Planeta, melhorando a qualidade de vida de todos. “Isso será possível quando os governos adotarem sistemas de contabilidade ambiental que permitam estimar seu patrimônio ecológico, prevendo seu uso”.

Como desafios, Ortíz sugere melhorar os detalhes e o rigor das contas do capital natural, “recalculando as necessidades reais de acordo com a capacidade dos ecossistemas, educando as pessoas e o mercado para modificar os sistemas de produção de forma que os países não se tornem inviáveis, mas aliviando a pressão de extração dos recursos do Planeta”, finaliza, ao anunciar o site para calcular a Pegada Ecológica: http://www.footprintnetwork.org.

Os Seminários sobre Agroecologia são promovidos pela Emater/RS-Ascar, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Assembléia Legislativa e Governo do Estado do Rio Grande do Sul, com o apoio de mais de 15 entidades governamentais e não-governamentais.

(Envolverde/Ecoagência, 23/11/2007)


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