Deputados europeus e associações indígenas e agrárias latino-americanas exigiram nesta quinta-feira (22/11), em Bruxelas, uma moratória para o desenvolvimento dos biocombustíveis. Eles denunciam as conseqüências negativas da expansão dos cultivos destinados a este fim, como ocorre com a cana-de-açúcar no Brasil.
"Acreditamos que o plano de substituição de energia fóssil por agrocombustíveis é um grave erro e pode ter conseqüências muito negativas para as populações campesinas e o meio ambiente", resumiu Alberto Alderete, do Serviço Jurídico Integral para o Desenvolvimento Agrário do Paraguai, no debate sobre "Os biocombustíveis na América Latina" organizado na Eurocâmara.
"Estas monoculturas, como ocorre com a da soja, estão provocando um êxodo rural já que ameaçam as fontes de alimentação da população campesina e seu acesso à terra. Além disso, seus efeitos sobre a ecologia e sobre a mudança climática não foram devidamente estudados", acrescentou Alderete.
ProduçãoO debate ainda abordou o "aumento descontrolado" das colheitas de monoculturas para agrocombustíveis e foi centrado em casos do Paraguai (soja), da Colômbia (palma oleaginosa) e também do Brasil (cana-de-açúcar) e da Argentina (milho).
"A União Européia propõe a meta de 10% no uso de agrocombustíveis no setor do transporte para 2020. No entanto, há grandes dúvidas sobre a capacidade de reduzir as emissões de CO2 e, além disso, existe o medo que a corrida pela produção acelere a alteração climática e exacerbe muitos outros problemas sociais e ambientais", advertiu o eurodeputado espanhol Garcés Ramón.
Ele também lembrou que, para chegar a seu objetivo, adotado no marco da luta contra o aquecimento planetário, a UE (União Européia) precisa aumentar sua produção interna, o que também requer importações, majoritariamente de países em desenvolvimento.
"Vemos aqui o que ocorre não só no Paraguai e na Colômbia, mas também no Brasil e na Argentina", continuou, em referência à liderança mundial dos brasileiros na produção de etanol e o lugar destacado que os argentinos querem ocupar no desenvolvimento desta nova tecnologia.
MoratóriaCaso os participantes do debate não se opuserem à utilização dos biocombustíveis, informaram que pedirão em troca uma "moratória imediata" para os incentivos e as importações destes produtos, até que existam estudos mais detalhados sobre seus efeitos.
"Se continuarmos por esta via, não vamos desenvolver estes países, vamos afetá-los. É necessária uma moratória para ter um novo enfoque e conseguir energia a partir de outras fontes", afirmou Helmuth Markov, presidente da Comissão de Comércio Internacional do Parlamento Europeu.
Na mesma sintonia, o colombiano Diego Cardona, da ONG "Amigos da Terra", pediu uma "revisão do consumo de energia", denunciando o "esbanjamento" e "uso ilimitado" em algumas sociedades, e se pronunciou a favor de um modelo sustentável que promova um desenvolvimento maior com outras fontes, como a eólica ou a solar.
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France Presse, 23/11/2007)