Diante da declaração do secretário-executivo da Convenção da ONU para a Mudança Climática, Yvo de Boer, de que as indústrias no mundo estão emitindo dióxido de carbono (CO2) a níveis nunca antes registrados as adaptações serão fundamentais. A pergunta que paira no ar é de onde sairão os recursos para financiá-las. Essa questão foi levantada pelo climatologista Carlos Nobre durante uma palestra no workshop “Mudanças Climáticas – O Cenário Brasileiro, a COP-13 e a Cobertura da Imprensa”, realizado esta semana em São Paulo.
“Adaptar é inevitável. Se o nível dos mares subir, por exemplo, haverá custos para os portos, para realocação de populações, entre outros. E quem irá pagar a conta?”, indagou Nobre em videoconferência para os participantes do evento, promovido pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil.
Nobre lembra que a contribuição em emissões de gases causadores do efeito estufa (GEE) por parte dos países pobres é absolutamente baixa. No entanto, os impactos do aquecimento global causado pelo excesso destes gases na atmosfera, emitidos principalmente por nações industrializadas, serão proporcionalmente iguais tanto para nações pobres quanto ricas. “O fato de os mais pobres serem os grandes afetados é puramente uma resposta do sistema climático. As maiores mudanças do ciclo hidrológico, por exemplo, serão nas zonas áridas, onde a população é pobre”, ressalta.
Para alguns países, como Bangladesh que atualmente já sofre com os ciclones, o custo pode ser muito alto, tendo um grande impacto para o Produto Interno Bruto (PIB) do país. “Ninguém fala quem vai pagar os custos”, afirma. Os países desenvolvidos tentam não evitar o assunto e assumem a postura de que os afetados deverão ir à corte internacional para processarem os ricos se sentirem o peso econômico. “Eu acho inimaginável que um país pobre tenha força judicial para lutar por coisas básicas, como a agricultura depredada”, destaca.
O pesquisador diz que a eficiência energética é a principal arma para gerar recursos financeiros. “Como você vai utilizar este dinheiro, se realmente será empregado para a sustentabilidade já é outra questão. Mas isto é o que dá para se fazer hoje”, comenta.
(Por Paula Scheidt,
CarbonoBrasil, 22/11/2007)