O professor titular do Departamento de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, o sociólogo Argemiro Procópio, afirmou na quarta-feira (20) que os discursos em defesa e preservação da Amazônia não passam de "hipocrisia política", que o homem da floresta não tem culpa pelo desmatamento, e que o subdesenvolvimento da região é conduzido de forma estratégica e proposital.
Ele denunciou o que chama de "indústria ambiental", que lucra com a miséria na Amazônia, assim como a indústria da seca lucrou com a miséria no
Nordeste.
As declarações do estudioso foram dadas durante o segundo dia do "I Simpósio Amazônia e Desenvolvimento Nacional", evento organizado pela Câmara dos
Deputados, em Brasília. Autor do livro "Subdesenvolvimento Sustentável", Argemiro Procópio disse que a sociedade brasileira trata a Amazônia com
"segregação" e dispensa à região um regime de "apartheid".
Diante da farsa"Da mesma maneira que existiu a indústria da seca, no Nordeste, e muitas pessoas enriqueceram, hoje também existe uma indústria ambiental", sustentou
ele. "Há uma proliferação enorme de Ong's, e muita gente falando em nome da natureza, mas que não tem nenhuma identificação com a natureza. Ou seja,
ganham dinheiro em cima da miséria", sentenciou. "Essa indústria da miséria tem que acabar", exigiu.
Conforme números divulgados no simpósio, baseados em dados atualizados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Amazônia concentra
hoje 24 milhões de brasileiros, mantém um PIB de R$ 175 bilhões - equivalente ao PIB do Peru - e agrupa 75 milhões de cabeças de gado, 40% do
efetivo nacional. "A Amazônia tem sido segregada, apesar de representar 61%
do território nacional", lamentou Procópio.
O pesquisador afirma que não há projetos práticos para o desenvolvimento da Amazônia, nem tão pouco investimento governamental (verba no Orçamento da
União), para que a região desponte como eixo econômico e social. Ele afirma que o Estado inverteu os valores de investimentos na Amazônia, já que dedica
esforços para a preservação da natureza, mas esquece de dar subsídios de sobrevivência ao homem que compõe a floresta.
Na avaliação de Argemiro, há "hipocrisia" na política de preservação. "Se o homem tiver boas condições de vida, se tiver escola, e estiver
conscientizado do valor da natureza, ele vai ser o guardião da natureza", sustentou. O grande equívoco das políticas de preservação e de
desenvolvimento da Amazônia, é esquecer do homem amazônico, disse o professor.
(Por André Alves,
A Crítica, 22/11/2007)