Centenas de balões pretos e brancos pintados com o símbolo do gás carbônico (CO2), o principal gás de efeito estufa, içaram uma urna funerária cheia de cinzas da floresta amazônica em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília. As cinzas foram recolhidas no interior da Floresta Nacional do Jamanxim, no Pará, uma área protegida invadida e queimada ilegalmente este ano, e simbolizam o agravamento das mudanças climáticas devido à destruição da floresta.
A urna carregava uma faixa dizendo, em português e inglês, “Salve a Amazônia, salve o Clima”, um apelo do Greenpeace ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que o governo brasileiro se comprometa concretamente com o fim do desmatamento na Amazônia e assuma suas responsabilidades na redução do aquecimento global.
Em anúncio veiculado na quarta-feira num jornal de grande circulação do país, o recado foi reforçado: "Presidente Lula: o problema das mudanças climáticas está bem embaixo do seu nariz."
Lula recebeu uma cópia do anúncio durante o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, realizado na tarde desta quarta-feira no Palácio do Planalto, das mãos do coordenador da campanha da Amazônia do Greenpeace, Paulo Adario. Em discurso, Adario lembrou que o próprio presidente pedira, em outras ocasiões, para ser 'cutucado' pela sociedade civil. Lula reagiu com bom-humor ao receber a peça publicitária. "Podem cutucar, mas não cutuquem com vara curta."
O presidente também recebeu a proposta de pacto pelo fim do desmatamento, idealizada por ONGs nacionais que inclui a adoção de metas de redução anual da derrubada da floresta até que se chegue ao desmatamento zero em 2015, e posou para fotos com a camisa da campanha do Greenpeace contra a destruição da Amazônia.
O protesto pacífico do Greenpeace teve o apoio de parlamentares e acontece a menos de duas semanas do início da Convenção da ONU sobre Clima, em Bali, na Indonésia, onde delegações de 189 países vão se reunir para debater formas de combater o aquecimento global, incluindo as emissões provenientes da destruição das florestas tropicais. Embora o governo Lula tenha criado mais de 19 milhões de hectares em áreas protegidas, como a Flona do Jamanxim, muitas ainda carecem de implementação adequada, ficando vulneráveis ao ataque de grileiros, fazendeiros e madeireiros.
Lula afirmou, durante o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, que a reunião em Bali é muito importante para o Brasil e pediu publicamente durante o encontro que o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, fosse pessoalmente a Bali para liderar a delegação brasileira nas negociações.
O ministro-interino do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, defendeu durante seu discurso no Fórum a criação de políticas públicas mensuráveis para combater o aquecimento global. Após o encerramento da reunião, o negociador-chefe da delegação brasileira em Bali, Luis Alberto Figueiredo, reiterou que além de mensuraveis elas deveriam ser também transparentes para que possam ser monitoradas e avaliadas pela sociedade brasileira. Resta saber se podemos interpretar que o governo brasileiro está acenando com a possibilidade de assumir metas nacionais para o combate do desmatamento.
“A Amazônia está indo para o espaço, desmatada e queimada para dar lugar a pastos para gado, como ocorre na Flona do Jamanxim, ou campos de soja”, disse Paulo Adário, coordenador da campanha da Amazônia do Greenpeace. “É responsabilidade do governo parar imediatamente esse processo. Não há mais tempo a perder: a redução de emissões brasileiras de gases que provocam o aquecimento global passa por zerar o desmatamento na Amazônia o mais rapidamente possível. O Brasil não pode mais queimar o futuro do planeta”, acrescentou.
O diretor de campanhas do Greenpeace Brasil, Marcelo Furtado, lembrou que o Brasil é parte do problema “e deve, portanto, assumir sua parcela de responsabilidade na luta contra o aquecimento global”.
“O governo brasileiro”, disse Furtado, “tem a chance de mostrar uma postura proativa durante a Conferência de Clima, em Bali, garantindo a inclusão de florestas no segundo período de compromisso do Protocolo de Kyoto – tanto pelo enorme potencial de redução de emissões de gases do efeito estufa quanto pelo imensa biodiversidade da Amazônia”. Segundo Furtado, que cobrou a implementação imediata de uma política nacional de mudanças climáticas, “a solução não está do outro lado do mundo, mas bem ao alcance das mãos do governo brasileiro”.
Pelo menos 20% das emissões globais de gases do efeito estufa provêem da destruição das florestas tropicais. No Brasil, esta conta é ainda mais perversa. Cerca de 75% das emissões brasileiras de gases que provocam o aquecimento global são decorrentes dos desmatamentos, principalmente na Amazônia, e mudanças no uso do solo.
A Amazônia já perdeu 17% da cobertura florestal original e uma área similar se encontra severamente degradada. Se soluções não forem encontradas e implementadas nos próximos dez anos, a floresta poderá estar irreversivelmente ameaçada, com conseqüências desastrosas para a biodiversidade e o clima do planeta.
(Greenpeace Brasil /
Amazonia.org, 22/11/2007)