Biodiesel e etanol devem ter "outra cara" no RS, diz pesquisador da Embrapa
zoneamento silvicultura
passivos dos biocombustíveis
2007-11-23
Quinta-feira (22/11), último dia de debates do Seminário Energia e Sustentabilidade promovido pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), no salão de eventos do Hotel Plaza São Rafael, a coordenadora do Núcleo Amigos da Terra Brasil, Lúcia Ortiz, participou da mesa Bioenergia X Alimento junto do Pesquisador da Embrapa Clima Temperado Pelotas, Waldyr Stumpf Junior. Para ambos, a produção de biocombustíveis é uma realidade que ainda não tem políticas que regulamentem a sua expansão. Eles crêem que seja preciso valorizar o caráter regionalizado, diversificar a matriz produtiva e descentralizar o poder dos grandes empreendimentos para que seja possível produzir energia renovável com sustentabilidade e em harmonia com a produção de alimentos.
"Já se verifica o desvio de comoditties agrícolas destinadas ao consumo humano, como oleaginosas, para a produção de agroenergia", disse Lúcia, acrescentando que, o trigo, o milho e a soja, por exemplo, têm tido os seus preços aumentados em um nível sem precedentes.
A supervalorização de áreas de terras com relevo adequado à mecanização e com farta disponibilidade de água, tem provocado em municípios tradicionalmente produtores de grãos a preocupação em restringir áreas para produção de cana-de-açúcar para que se evite substituir culturas. Outro indício de que a agricultura industrial no setor agroenergético está em expansão.
Conforme Lúcia, a projeção é de que mais de cinco milhões de hectares sejam a demanda de óleo de soja para o Programa Nacional de Biodiesel e, de cana, mais de 30 milhões de hectares dos atuais 6,5 milhões podem não ser suficientes para atender as expectativas de demanda internacional. Por outro lado, segundo a ambientalista que é também geóloga, dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), a maior parte da produção que alimenta os brasileiros provém da agricultura familiar que fica ameaçada pela expansão das monoculturas energéticas. "Faltam políticas e instrumentos e fiscalização para tornar efetivo um zoneamento que possa orientar e reduzir os impactos que já estão acontecendo no Brasil, visando uma produção de energia que não comprometa a produção de alimentos e que priorize as demandas nacionais à exportação," explicou.
Descentralização
Como exemplos, a geóloga do NAT mencionou o trabalho de algumas cooperativas que envolvem a agricultura familiar na produção para o consumo local de óleos vegetais e etanol fabricado em microdestilarias consorciadas à produção de alimentos e fortalecendo a permanência e melhorando a qualidade de vida das populações no meio rural: Cooperbio sediada em Palmeira das Missões e Creral sediada em Erechim.
O Pesquisador da Embrapa Clima Temperado Pelotas, Waldyr Stumpf Junior, mostrou mapas da situação climática atual do Estado e projeções. A conclusão conforme os dados divulgados é de que a temperatura tem aumentado, tendo sido um grau Celsius no último século, ou seja, estão realmente menores as horas de frio no Rio Grande do Sul. A conseqüência é que à medida que isso se intensifica dificulta o crescimento das culturas de clima temperado. Tanto que, Waldyr Junior adiantou, se continuar assim, vai ser possível se plantar café no próximo século no nosso Estado – uma cultura de clima tropical.
"A Embrapa está investindo na faixa tropical porque o clima só tem aquecido e, com respeito às condições climáticas e de disponibilidade de terras, o Brasil é o país mais competitivo em relação a outros", ilustrou. De acordo com os cálculos da Embrapa, o biodiesel no Brasil tem uma capacidade instalada de produção equivalente a 2,18 bilhões de litros enquanto que a produção até junho alcançou 19 milhões de litros. Porém, ele alerta para que sejam observadas as vocações regionais. "É preciso pensar o biodiesel e o etanol para o Rio Grande do Sul, não em grande escala, não com a cara de São Paulo ou dos Estados do Nordeste. Há esta janela tecnológica agora e é preciso aproveitá-la, mas temos de enfrentar a diversificação da matriz produtiva, inovar formatos tecnológicos, gerar emprego e renda e promover a sustentabilidade econômica, social e ambiental", concluiu.
(Por Eliege Fante, Núcleo Amigos da Terra-Brasil / Texto recebido por E-mail, 22/11/2007)