O monocultivo de árvores e a devastação da biodiversidade foram discutidos na tarde desta segunda-feira (20), em Porto Alegre, durante o VIII Seminário Internacional e IX Seminário Estadual sobre Agroecologia, que acontecem até hoje (22/11), no Auditório Dante Barone, da Assembléia Legislativa. Sob o sub-título Impactos e Tecnologias, palestraram o professor da Ufrgs, Ludwig Buckup, e o integrante da Agapan (Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural), o geneticista Flávio Lewgoy, declararam a farta documentação sobre os efeitos e as consequências do plantio de árvores exóticas e dos transgênicos.
Ludwig Buckup falou sobre o Monocultivo de Árvores e a Devastação da Biodiversidade. Ele questionou a relação existente entre qualidade ambiental e qualidade de vida e destacou que a Biodiversidade tem, como benefícios, as plantas medicinais, as variedades agrícolas, a fertilidade dos solos e a proteção dos mananciais. Entre as ameaças dessa prática de monocultura, Buckup cita a situação crítica em que se encontram animais como o lobo-guará e o veado campeiro, além do lagarto cnenidophonus vacariensis, descoberto no ano 2000, e encontrado junto aos afloramentos de rochas que ficam expostas nos campos gaúchos.
Buckup relatou recente viagem à Austrália, para conhecer as chamadas florestas de eucaliptos. “Na Austrália, as plantações de eucalipto não têm nada a ver com as encontradas no Brasil”, afirma. “Lá, há matas de savana, com eucaliptos mas também com plantas de porte arbustivo. A diversidade é própria de paisagens naturais”, diz, ao destacar que “na Austrália, a média de eucaliptos por hectare é de 60 pés, enquanto que no Brasil estão sendo plantados 1.700 pés de eucalipto por hectare”, salienta Buckup ao questionar o impacto ecológico que o Rio Grande do Sul terá com o plantio de um milhão de hectares de espécies exóticas.
O empobrecimento do solo também foi apresentado por Buckup, “já que os eucaliptos levam consigo todos os nutrientes do solo, deixando apenas os tocos, que demoram décadas para se decompor”. Ou seja, ao final de sete anos, quando ocorrerá a primeira colheita dos eucaliptos, novo plantio se dará entre as linhas, deixando, como herança, em 14 anos, 3,4 bilhões de tocos de eucaliptos.
A redução do fluxo fluvial dos rios atingidos pelas plantações de eucaliptos na Argentina e na África está comprovada em estudos divulgados pela Revista Science, “isso porque as árvores utilizam mais água do que ervas e arbustos”, diz Buckup, ao revelar a existência de farta documentação científica sobre o assunto.
No caso do Rio Grande do Sul, o Bioma Pampa existe há 12 mil anos, “sem nunca ter sido reflorestado”, afirma Buckup. Os campos ocupam 63% do território do Estado, onde a vocação é da pecuária de corte e pastoreio contínuo. O lamentável, para ele, é que apenas 0,3% dos ecossistemas campestres gaúchos estão protegidos em unidades de conservação. “Nos campos é possível encontrar mais de 3 mil espécies vegetais catalogadas, com numerosos endemismos e plantas de interesse farmacêutico”, destaca.
Para Buckup é preciso buscar respostas às perguntas onde, quando, quanto, onde e como plantar. “A resposta está no zoneamento ambiental para a silvicultura, cujo estudo o Governo do Estado desqualificou”, analisa, ao destacar a Ação Civil Pública elabora em agosto deste ano por diversas entidades, cuja consequência é a recente determinação de que os licenciamentos de plantação de pinus e eucaliptos no Estado será feito pelo Ibama. Entre as entidades, Buckup cita a Igré Amigos da Água (http://www.igre.org.br), da qual ele pertence.
Precaução aos TrânsgenicosO geneticista Flávio Lewgoy, também integrante da Agapan, palestrou sobre Transgênicos: do Sonho à Realidade e relatou a história da genética desde o princípio da década de 50, “quando se sabia que o gene existia, mas era considerável intangível e hoje se procura confundir biotecnologia com transgenia”. Ele lembra que “no caso do pão, da cerveja e do vinho, na Grécia antiga, se sabia das propriedades de transformação da farinha, da cevada e da uva”, compara.
“Os geneticistas tinham o sonho de alterar os genes, tirando-os de uma planta e colocando num animal, por exemplo. Isso na década de 70, quando foi realizado um simpósio para abordar a prevenção de doenças pelas possíveis alterações”, conta Lewgoy, ao lembrar que a engenharia genética começou na agricultura no início da década de 60 e que os primeiros ensaios transgênicos iniciaram 30 anos depois.
Lewgoy afirma não ter nada contra a transgenia, “nem preconceito, mas sou amigo do princípio da precaução, pois para mim toda a descoberta científica tem que ser discutida com a sociedade”, finaliza Lewgoy, ao reforçar a existência de muitas pesquisas que constatam os efeitos adversos à saúde a partir da transgenia.
(Por Adriane Bertoglio Rodrigues, Emater-RS /
Envolverde, 21/11/2007)