De tão promissor, o uso de biomassa para a produção de energia despertou a cobiça de um grupo mais interessado em rechear suas próprias expectativas do que as da empobrecida Metade Sul. Em Dom Pedrito, São Borja, São Sepé e Rio Grande ainda se espera que as térmicas com o selo da Hamburgo brotem do chão. Além da ameaça de execução das falsas garantias da CGTEE, com custo para os cofres públicos - ou seja, com os impostos recolhidos dos cidadãos - , o desfecho do caso desafia a esperança da região.
Com exceção de Rio Grande, que agora se agita com o pólo naval, as demais cidades tinham nessas usinas a perspectiva mais rápida de geração de emprego e renda. Além de envolver o Brasil e a Europa, o caso já havia despertado a preocupação de investidores americanos, que dedicaram tempo e recursos tentando separar joio de arroz. Queriam saber se as suspeitas de fraude eram isoladas ou se ameaçavam o promissor filão de energia renovável no Brasil.
Além de suprir um canto de mundo sob cíclicas ameaças de apagão, as térmicas poderiam render negócios com créditos de carbono, como os já feitos pela Camil, que desde 2001 gera 4,2 megawatts (MW) em Itaqui a partir de casca de arroz. O projeto da Geradora de Energia Elétrica Alegrete Ltda (GEEA) também prevê, a partir de meados de 2008, a produção de sílica, material nobre usado no cimento e em calçados esportivos. José Francisco Rangel, presidente da Agência de Desenvolvimento de São Borja, crê na predição do pesquisador da Universidade de São Paulo Milton Ferreira de Souza de que, no futuro, o grão será o subproduto da casca. Novos projetos de energia capazes de operar com velocidade são cruciais para o Estado, para o país e para vizinhos como a Argentina.
- Esse é um fato isolado, que não inibirá o investimento na área de biomassa - avalia Carlos Faria, coordenador do grupo temático de energia da Federação das Indústrias (Fiergs).
Para garantir que a energia das cascas será capaz de germinar sob as cinzas das suspeitas de fraude será preciso delimitar claramente o espaço da oportunidade e do oportunismo.
(Por Marta Sfredo, Zero Hora, 22/11/2007)