Fiscalização é dificultada pela complexidade do arranjo de ilhas, canais e lagoasLocalizado no Estado do Amazonas está o segundo maior arquipélago fluvial do mundo, o Arquipélago de Anavilhanas. A paisagem – uma das mais famosas de toda a Amazônia Brasileira – é a primeira a ser abordada na série de "Cartões-Postais Ameaçados", que vai tratar das belezas brasileiras que estão em risco devido a sua exploração e má utilização pela atividade humana.
Situado nos municípios de Airão e Manaus, o Arquipélago de Anavilhanas é composto por cerca de 400 ilhas compridas e finas que formam um labirinto de canais e lagoas recortando o leito principal do Rio Negro. Todos os cerca de 350 mil hectares que compõem sua extensão foram elevados, em 1981, à categoria de Estação Ecológica (ESEC). Com isso, a administração passou a ser competência da Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema), extinta em 1989, quando passou a fazer parte do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
O objetivo da classificação do arquipélago como ESEC é evitar sua exploração, uma vez que as áreas de estações ecológicas são destinadas apenas a atividades de pesquisa e visitação pública com propósitos educativos. Entretanto, o Arquipélago de Anavilhanas segue sofrendo com a realização de atividades irregulares que ocorrem em seus limites. Extração ilegal de areia, caça, pesca, exploração madeireira e turismo desordenado são as principais ameaças.
A beleza do lugar – cujas ilhas se formam do encontro das águas barrentas do Rio Branco com as correntes ácidas do Rio Negro – atrai a atenção dos turistas. Embora a lei restrinja a visitação aos motivos educativos, o Arquipélago de Anavilhanas está nos principais roteiros turísticos da região. Visitantes mal orientados acampam nas praias do arquipélago prejudicando o ecossistema com atividades de pesca e deixando para trás o lixo produzido durante o passeio.
Intervenções no ecossistema do lugar são grandemente perigosas para o equilíbrio do meio. A vegetação que se forma ao longo das ilhas é composta por árvores especialmente adaptadas a condição de alagamento, que chega a durar até 10 meses em algumas áreas. Essa vegetação — chamada Igapó – é bastante frágil e possui variedades exclusivas que servem de alimentação e abrigo para muitas espécies de aves, peixes e mamíferos.
A condição de alagamento permite a navegação dentro do Igapó, dando acesso às florestas alagadas, onde ocorre a exploração ilegal da madeira. Toras são cortadas e transportadas pelo próprio rio. Uma das madeiras mais procuradas é a da Virola, árvore alta e que é facilmente serrada, cuja madeira tem uso descartável na construção civil de Manaus.
A fiscalização das atividades ilegais no Arquipélago de Anavilhanas é bastante dificultada pelas próprias características da região. A complexidade do arranjo de ilhas, canais e lagoas desafia a operacionalidade das atividades dos agentes do Ibama e demanda um contingente de fiscais que o órgão ambiental não possui na região.
(
Almanaque Brasil SocioAmbiental 2008, ClicRBS, 22/11/20007)