O governo chinês considera que as nações ricas devem subsidiar seus esforços para reduzir a quantidade de emissões de gases causadores do efeito estufa, considerados responsáveis pelo aquecimento global. Enquanto os líderes mundiais se preparam para debater em dezembro, em Bali, a estratégia para enfrentar a mudança climática, Pequim está sob pressão para reduzir suas crescentes emissões, alimentadas por seu vasto programa de construção de usinas elétricas que utilizam carvão. Este gigante asiático utiliza carvão para satisfazer quase dois terços de suas necessidades energéticas, mas esse combustível é o que libera maior quantidade de dióxido de carbono, principal gás causador do aquecimento do planeta.

A Agência Internacional de Energia Atômica disse que no próximo ano a China se converterá em líder mundial quanto à quantidade de emissões de carbono, ultrapassando os Estados Unidos, embora alguns estudos indiquem que isto já ocorreu. Até o momento Pequim nega-se a aderir às novas iniciativas internacionais para lidar com a mudança climática, argumentando que os países do Norte industrializado são os responsáveis por esta situação e devem enfrentar os custos de implica deter ou reverter esse processo de deterioração do habitat terrestre.

Embora a China admita que sua industrialização sem precedentes pode causar uma grande parte das emissões de gases que levam ao efeito estufa, opõe-se aos limites obrigatórios, dizendo que podem desacelerar sue crescimento econômico quando ainda está em fase de desenvolvimento. Por outro lado, designou o que chama de novo modelo para o desenvolvimento industrial, que reduz as emissões através de um uso mais eficiente da energia.

Os funcionários dizem que este país não pode se dar ao luxo de “contaminar agora e limpar depois”, como fizeram as nações ocidentais, devido ao seu enorme território e quantidade de habitantes que já superam 1,3 bilhão. “Vemos como uma obrigação moral conter as emissões’, afirmou Pan Jiahua, do Centro de Pesquisa Ambiental da Academia Chinesa de Ciências Sociais. “Mas, se pudermos aproveitar a transferência de tecnologias modernas e fundos, então poderemos nos comprometer em trabalhar com todas as partes na redução das emissões globais de gases causadores do efeito estufa”, acrescentou.

Este ano a China destacou em várias oportunidades a importância do financiamento e da tecnologia ocidentais em seus esforços para combater a mudança climática. Funcionários governamentais, ao anunciarem que os fundos dedicados a pesquisa sobre mudança climática duplicaram nos últimos 18 meses comparados com o qüinqüênio anterior, disseram que o país ainda não alcançou seus objetivos de uso eficiente da energia por falta de tecnologia.

Pequim investiu US$ 672 milhões desde o ano passado até agora em estudos sobre redução de emissões de gases causadores do efeito estufa, que incluíram novos métodos de conservação de energia e eletricidade, segundo Sun Hong, vice-diretor do Ministério de Ciência e Tecnologia. “Mas, a China enfrenta grandes dificuldades para atingir suas metas de eficiência energética, cujo êxito depende dos avanços tecnológicos”, disse em entrevista coletiva em julho passado.

O plano qüinqüenal iniciado em 2006 contempla reduzir o consumo de energia por unidade do produto interno bruto em 20% até 2010, ou 4% ao ano. Mas, as indústrias chinesas estiveram longe da meta proposta durante o primeiro ano de aplicação do plano, quando conseguiram uma redução de apenas 1,3%. Na semana passada, Pequim estabeleceu um fundo para canalizar o dinheiro proveniente da venda de créditos de redução de emissões para projetos ambientais. Esse fundo receberá parte do que é pago às companhias chinesas sob o sistema conhecido como Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), estabelecido pelo Protocolo de Kyoto.

Este esquema contempla que os países ricos possam superar seus limites de emissões financiando projetos de redução das mesmas nas nações subdesenvolvidas. Acredita-se que a China se converterá no maior provedor mundial de créditos de carbono até 2012. Até o momento, o governo já aprovou 885 projetos, segundo Xie Zhennhua, vice-ministro da Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento. As autoridades esperam que o novo fundo recebe US$ 3 bilhões para apoiar projetos de conservação.

Segundo Pan, os funcionários chineses vêem os MDLs como parte da “promessa condicional” do país para reduzir as emissões dos gases causadores do efeito estufa. “Trata-se de um compromisso compartilhado, mas, como nação subdesenvolvida, a China atuará em função de sua limitada responsabilidade no aquecimento global”, afirmou.

Em junho, a China divulgou seu primeiro plano nacional sobre mudança climática, que propõe combinar os esforços para reduzir as emissões com uma estratégia de desenvolvimento sustentável. Ao anunciá-lo, o máximo responsável pelo planejamento econômico do país, Ma Kai, destacou que o aquecimento global é conseqüência das ações dos países ricos. Desde o início da Revolução Industrial até 1950 – disse – 95% das emissões de dióxido de carbono se originaram nas nações ricas. Entre 1950 e 2002 esses países foram responsáveis por 77% do total, acrescentou.

Apesar de culpar as nações ocidentais, as autoridades chinesas sabem que contam com um tempo limitado para tomar medidas a respeito da mudança climática. Um informe divulgado esta semana por 23 organizações de ajuda e ambientais na Grã-Bretanha alertou que a China enfrenta graves riscos. Esse estudo do Grupo de Trabalho sobre o Clima e o Desenvolvimento disse que os maiores centros econômicos do país estão em áreas costeiras baixas, que podem sofrer avalanches, inundações e tempestades tropicais se não forem feitas ações para enfrentar a mudança climática.

(Por Antoaneta Bezlova, IPS, 21/11/2007)