No dia 16 de novembro, sexta-feira, foi realizado o lançamento do documentário "O Chamado do Madeira", dirigido por André Benedetti, no auditório da Catedral, em Porto Velho. O filme será instrumento para contribuir para a discussão sobre os empreendimentos do Complexo do Madeira, indo além do reducionismo das "Hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau".
O filme, segundo o diretor, "apresenta o olhar do ribeirinho sobre o rio. Soma-se ao olhar técnico, apresentando múltiplos olhares, não reduzindo à dimensão econômica, mas também a social e cultural, valorizando a única maneira de se chegar a um mundo mais justo."
O documentário é um chamado à vida, uma vez que os empreendimentos, para Benedetti, "não respeitam as populações tradicionais e tem repensado a região sem a preocupação ambiental."
Para o professor da Universidade Federal de Rondônia, o sociólogo e cientista político (também membro da rede ATTAC e do Grupo de Trabalho de Serviços e Investimentos da Rede Brasileira de Integração dos Povos) Luis Fernando Novoa Garzon, o projeto de construção das usinas "revela a prepotência e truculência das empresas integradas ao Estado - as parcerias público-privadas tornam o empreendimento economicamente viável quando não há um caráter estratégico de desenvolvimento, mas sim de lucratividade à custa do povo, do ambiente, viabilizando, finalmente, o Eixo Pacífico". Para ele, o filme mostra à violência do projeto, que irá esmagar as populações regionais e promover a depredação ambiental, sendo tudo menos a tentativa de fornecer e ampliar o abastecimento energético do país, diante menos impactantes e mais baratas.
Populações envolvidasNo evento, além de ambientalistas, professores, pesquisadores e estudantes, estiveram presentes as populações envolvidas e que serão deslocadas.
Wesley Ferreira Lopes, membro da direção do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) indicou que o "filme mostra aquilo que não foi mostrado na imprensa, no cenário nacional, desmascarando os interesses que tem por trás dos empreendimentos na Amazônia, no caso, a Hidrelétrica, que simboliza a aliança de três poderes: o agronegócio, o Capital financeiro e o setor de energia e mineração que submetem o Estado, que se coloca a serviço para facilitar a implementação [do projeto]" (sic).
Outro ribeirinho, José Riqueta, de 67 anos e que desde 1971 mora no mesmo lugar - uma pequena propriedade que será alagada - disse desejar que o projeto não se realize, pois não será expulso de suas terras, bem como outras famílias, que tiram de lá sua sobrevivência, atirando-os na cidade, onde não serão integrados.
Deste modo o documentário é extremamente valioso e enriquecedor para a sociedade brasileira, por apresentar o contraditório, ouvindo as populações que vem sendo sumariamente silenciadas pela histeria do "Usinas Já" e uma contraproposta diante da chantagem de um novo "apagão", pensando a dimensão social, cultural, produtiva e ambiental do empreendimento e mantendo um diálogo aberto e franco com distintos setores da comunidade amazônica.
(Por Vinícius Miguel,
Rondonoticias, 20/11/2007)