A Cruz Vermelha afirmou nesta terça-feira que o ciclone Sidr, que arrasou Bangladesh na semana passada, e as graves enchentes ocorridas em julho no país são um sinal concreto da mudança climática. "O número de desastres naturais aumentou muito nos últimos 20 anos, e o de pessoas afetadas também", disse o delegado regional da Cruz Vermelha no Sul da Ásia, Al Panico, que considera que isso é uma prova de que "a mudança climática já está aqui".
Mas "o que deixa a situação ainda mais dramática é o fato de que Bangladesh estava começando a se recuperar das enchentes de julho", as piores dos últimos 20 anos, acrescentou Panico. O ciclone Sidr afetou cerca de sete milhões de pessoas, deixou 2.062 desaparecidos e ao menos 3.153 mortos. Panico é um dos 700 representantes de 180 sociedades nacionais da Cruz Vermelha que participam entre esta terça-feira e sexta, em Genebra, da Assembléia Geral do organismo, na qual será analisado, entre outras questões, o impacto humanitário da mudança climática.
O responsável da Cruz Vermelha no Sul da Ásia afirmou que o trabalho da organização "é salvar vidas e levar as pessoas para lugares seguros em caso de emergência, enquanto a redução das emissões de dióxido de carbono é tarefa dos governos". Panico ressaltou a importância das medidas preventivas aplicadas desde meados dos anos 90 para reduzir o impacto de desastres naturais como o ciclone Sidr.
Os 40 mil voluntários do Crescente Vermelho local instalaram antes da passagem do ciclone 1.800 tendas de campanha, com capacidade para duas mil pessoas cada, sobre pilares de seis metros de altura. "Essa medida de prevenção fez com que o número de mortes fosse inferior ao de outras vezes, como na década de 90, quando até 180 mil pessoas podiam morrer", destacou.
Reconstrução No entanto, muitos bengaleses "perderam seus barcos e suas redes de pesca, e uma grande parte de seus cultivos foi prejudicada, o que impossibilita a próxima colheita", afirmou. Por causa disso, enquanto os membros da sociedade nacional de Bangladesh fornecem alimentos, roupa, água potável e outros produtos de primeira necessidade, a Cruz Vermelha elabora uma operação a longo prazo para reconstruir o país.
A organização humanitária dará ferramentas para consertar casas, construir novos barcos, regular as redes de pesca, além de auxiliar na retomada das plantações; enquanto isso, alimentos serão distribuídos até que haja a primeira colheita. Até o momento, o país recebeu 4,3 milhões de euros para começar seus programas de recuperação, mas muito mais dinheiro será necessário para continuar, motivo pelo qual, segundo Panico, a organização lançará um novo pedido de recursos financeiros nos próximos dias.
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Folha Online, 21/11/2007)