Entrevista: Luiz Ruppenthal, ex-diretor e ex-responsável técnico da Utresa
Pouco antes de deixar o fórum, o empresário concedeu uma breve entrevista à imprensa, mediante a negociação de que a quantidade de perguntas seria limitada a cada um dos quatro jornalistas presentes. Repondeu aos questionamentos dos repórteres calmamente, sem alterar o tom de voz.
Desde que passou a ser apontado como um dos responsáveis pela mortandade, esta foi a primeira vez que o empresário falou à imprensa - no início deste mês, ele respondeu a perguntas enviadas por e-mail pelas reportagens de Zero Hora e RBS TV. Confira trechos da entrevista:
Pergunta - A Utresa foi responsável pela mortandade de peixes ocorrida em outubro do ano passado no Rio dos Sinos?
Luiz Ruppenthal - Eu não posso responder pela Utresa, porque eu fui destituído da direção da Utresa, que é uma entidade sem fins lucrativos e tem hoje uma nova diretoria nomeada. Sobre a Utresa, eles terão que responder.
Pergunta - Mas conforme as investigações, funcionários da Utresa, sob sua orientação, teriam lançado em afluentes do Sinos material sem tratamento e que não deveria chegar ao rio. Isso aconteceu?
Ruppenthal - Não, nenhum funcionário da Utresa teria feito isso porque ela não tinha esse tipo de funcionário. A Utresa tinha sistemistas com autonomia de administração e de gestão financeira total. Esses sistemistas, que estavam conscientes do que faziam porque tinham em mãos a licença de operação do órgão que nos controla, não fariam isso. O que pode ter havido é que tenham dito que nós fizemos e nós, no caso a Utresa, que já não faço parte, e que tenha sido atribuído a nós. Naquela área havia outras atividades que não são vinculadas à Utresa e que têm o mesmo potencial de danos que nos tínhamos.
Pergunta - Então, por parte da Utresa, não houve lançamento clandestino no Rio do Sinos enquanto o senhor estava na direção?
Ruppenthal - Não. Quando é usado o termo lançamento, é uma coisa. Se fosse dito "poderá ter havido alguma eventual fuga de alguma coisa em função de uma precipitação pluviométrica maior", isso é outra coisa. São questões técnicas que para responder em uma pergunta só e em uma única resposta fica muito difícil.
Pergunta - No início do ano, um site que seria assinado pelo senhor trazia informações sobre uma suposta máfia do lixo e sobre atentados que o senhor teria sofrido. Quem participaria dessa máfia e quem seriam autores dos atentados?
Ruppenthal - Esse site tinha a minha assinatura e eu confirmo que fui eu que escrevi. Nesse próprio site eu já havia dito que eu não sei quem teria tentado me eliminar, me apagar. Evidentemente, alguém deve ter tido interesse nisso, mas eu não posso realmente dizer quem foi. E o esquema da máfia do lixo é um esquema que todos os dias está na imprensa, que ocorre não só no Brasil, mas também fora, e que eu não posso resumir em meia dúzia de palavras. Não teria como fazer isso.
Pergunta - O senhor chegou a deixar o Brasil durante o período que esteve foragido?
Ruppenthal - Eu me considero um sobrevivente. Não pude deixar o país, não tinha condições para isso. Teria sido impossível deixar o país. Eu tive os bens congelados e sem a disposição de bens não tinha recursos financeiros para fazer isso.
(Zero Hora, 21/11/2007)