(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
2007-11-20
Ao comemorarmos o "Dia Nacional da Consciência Negra" urge salientar a importância deste salutar momento histórico para todo povo brasileiro: a herança de um povo que mesmo tendo sido feito escravo não aceitou passivamente a "canga" da escravidão sobre seu pescoço. Muito tem a nos ensinar o povo afro-descendente, muito temos o que aprender de Zumbi e muito mais ainda tem a nos revelar o Quilombo dos Palmares.
 
Resgatar a herança dos afrodescendentes é fazer emergir do profundo de nosso ser o sentimento de revolta, de rebeldia e de indignação. É deixar vir à tona a ira-santa frente à "qualquer injustiça provocada contra qualquer ser humano em qualquer lugar do mundo" (Che Guevara). É afirmar com Zumbi: "Não, não deponho as armas, enquanto houver um afro-descendente cativo, nenhum é livre!".
 
Falar de Zumbi é falar dos afrodescendentes, falar dos afrodescendentes é falar de Zumbi, é falar do Quilombo dos Palmares. O grito de liberdade de Zumbi ainda hoje ecoa na humanidade. Foi sua ânsia pela liberdade que não lhe permitiu se render aos privilégios que gozava sob a tutela do Padre Antonio Mello. Foi o amor pelo seu povo que o levou a não considerar justos os bons tratos destinados a ele somente, enquanto sua gente sofria sob o peso da opressão. Zumbi preferiu fugir dos privilégios a se deixar cooptar por eles. Preferiu a luta à resignação.
 
Foi a luta pela libertação de todo o seu povo que levou Zumbi a recusar em 1678, a oferta do então governador de Pernambuco, Pedro de Almeida, que propunha anistia e liberdade a todos os nascidos no Quilombo dos Palmares. Enquanto Ganga Zumba, então líder de Palmares, concordava com a trégua, Zumbi se colocava contra, por entender que o acordo favorecia a continuidade do regime de escravidão praticado nos engenhos. Foi este sentimento de - ou liberdade para todos ou a luta - que fez de Zumbi, a partir de então, o novo líder do seu povo.
 
O Quilombo dos Palmares se tornou então uma autêntica comunidade livre onde se criava gado, plantava-se mandioca e cana-de-açúcar. O que sobrava da colheita era trocado com a vizinhança por sal, pólvora e armas de fogo. Garantindo assim a proteção do povo contra as inúmeras investidas dos colonizadores. Em pouco tempo o Quilombo dos Palmares se transformou num verdadeiro "refúgio da liberdade", acolhendo escravos fugidos, brancos-pobres e indígenas.
 
Nem mesmo a maior de todas as investidas desferidas pelo mercenário-bandeirante Domingos Jorge Velho, em 1694, conseguiram exterminar o Quilombo dos Palmares completamente. Muitos outros "Quilombos" surgiram. Pois, não se pode destruir a memória e a liberdade de um povo. A prova é que hoje, mais de duzentos municípios em todo o Brasil, celebram a memória de Zumbi e a luta de um povo pela sua libertação, considerando este dia "feriado memorável".
 
Zumbi continua a ensinar que só a luta nos faz livres e que nenhum líder deve se deixar corromper e cooptar pelos privilégios oferecidos. E que ninguém deve se considerar livre enquanto houver um só cativo. O Quilombo dos Palmares teima em nos deixar como legado o fato de ter sido um "refúgio de liberdade". Este legado denuncia os mais diversos lugares que outrora nasceram para refugiar à liberdade, lugares que até ontem serviam de esconderijos para os mais "aguerridos lutadores do povo", e que hoje se tornaram abrigo de uma "elite de privilegiados", de "ajoelhados" ante os "neocolonizadores", com seus bons empregos, fartos banquetes e vinhos finos, suas ricas amizades, mas que viraram às costas para a opressão de seu povo. Os afrodescendentes insistem em fazerem ecoar do seu âmago o grito pela libertação, nos ensinando que nada, nada é mais importante e precioso na vida de um povo do que a sua liberdade.
 
Zumbi, Quilombo dos Palmares e os Afrodescendentes não nos deixam esquecer que a luta de hoje não é diferente da luta de ontem. Que a escravidão hoje é global. Que os Domingos Jorge Velho de hoje são a Rede Globo e sua cruzada desmoralizadora contra os remanescentes quilombolas, que os colonizadores ainda são os latifundiários e sua ganância ambiciosa pela grilagem de mais terras, e que os "grilhões" e o "pelourinho" de hoje continuam sendo a discriminação e o racismo. Exemplifica isto as recentes declarações de James Watson, descobridor da estrutura molecular do DNA, ao afirmar que testes de QI demonstraram que os africanos são menos inteligentes que os ocidentais.
 
Quantos ainda devem morrer na luta pela liberdade? Tantos quantos forem necessários para mostrar que: ou a liberdade ou a morte. Enquanto houver quem ouse escravizar um povo haverá sempre quem não tema derramar seu sangue em defesa de sua libertação. Zumbi preferiu perder a vida, mas não a liberdade. Traído por Antônio Soares, um de seus comandantes, Zumbi foi capturado no dia 20 de novembro de 1695. Morto, teve seu corpo esquartejado e sua cabeça exposta em praça pública na cidade de Olinda, Pernambuco. Quase 100 anos depois, outro "revolucionário" teve o mesmo tratamento dispensado pelos "algozes da colonização". No dia 21 de abril de 1792, Tiradentes foi enforcado no Largo da Lampadosa, Rio de Janeiro. Sua casa foi arrasada e seus descendentes declarados infames. Seu corpo foi esquartejado, sua cabeça erguida em um poste em Vila Rica e seus restos mortais distribuídos ao longo do Caminho Novo: Cebolas, Varginha do Lourenço, Barbacena e Queluz, antiga Carijós, lugares onde Tiradentes fizera seus discursos revolucionários. A semelhança da morte tanto de Zumbi como de Tiradentes, faz destes lugares os nascedouros dos "novos Quilombos dos Palmares", dos "novos refúgios de liberdade".
 
Zumbi dos Palmares, Tiradentes, e tantos outros "revolucionários", "heróis da liberdade" demonstram que um povo só é povo sendo livre. Por isso, enquanto os afrodescendentes forem discriminados e tratados indignamente, os brancos-pobres oprimidos pela miséria e massacrados pela injustiça e os indígenas tocados de suas terras e tratados como indigentes, Zumbi vive. E com ele a memória de todos os revolucionários. Enquanto a liberdade não for liberdade para os afrodescendentes, para os pobres e para os indígenas outros "Quilombos dos Palmares" surgirão e nele outros "Zumbis" nascerão.

(Por Wilson Aparecido Lopes, Adital, 19/11/2007)


desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -