O relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) da ONU divulgado esta semana em Valência, na Espanha, faz um alerta categórico a todos os governos: é preciso tomar atitudes enérgicas e emergenciais pelo clima durante as negociações da segunda fase do Protocolo de Kyoto, que acontecem em duas semanas em Bali, na Indonésia.
Os cientistas do IPCC aprovaram sexta-feira o 4o. Relatório Síntese de Avaliação, que resume os principais pontos dos três relatórios publicados anteriormente este ano – as bases científicas físicas, seus impactos e as opções de mitigação. O relatório será a grande referência para os tomadores de decisão política nos próximos anos.
Entenda aqui o que são as mudanças climáticas e os impactos que podem ter em nossas vidas.
Após o fim da reunião, o navio Arctic Sunrise do Greenpeace lançou seus barcos infláveis para protestar contra um navio na costa de Valência carregado com 153 mil toneladas de carvão, num um aviso aos governos sobre as reais causas do nosso problema climático. Houve um protesto semelhante no início da semana.
"É evidente, a partir deste relatório, que estamos jogando com o futuro do planeta - e as apostas são altas", afirma Stephanie Tunmore, do Greenpeace Internacional, que acompanhou a reunião do IPCC na Espanha. "O documento apresenta um caso convincente para ações imediatas em matéria de clima. E isso deve ser o centro das atenções durante as negociações de Kyoto, em Bali, em dezembro."
Os relatórios do IPCC consideram como "inequívocas" as alterações climáticas já ocorridas e adverte que o aquecimento global decorrente da ação humana poderá levar a abruptos ou irreversíveis impactos. No entanto, ele também confirma que a estabilização dos níveis de todos os gases de efeito estufa podem ser alcançadas com tecnologias disponíveis atualmente ou em vias de serem comercializadas nas próximas décadas.
Entre os inúmeros fatores de riscos apontados pelo relatório como "motivos de preocupação" estão:
* Novos indícios de que as populações pobres e idosas constituem os dois grupos mais vulneráveis, tanto em países ricos como em países pobres com relação aos impactos do clima: mais fome, mais doenças, maiores riscos de eventos climáticos extremos;
* Extinções em massa de plantas e animais em todo o mundo;
* Extinção de grandes áreas de recifes de corais, ameaçando a subsistência de milhões espécies;
* Secas severas, ondas de calor mais intensas e aumento da ocorrência de inundações são riscos projetados para regiões do mundo que já são duramente atingidas, muitas vezes nas regiões mais pobres do mundo;
* Aumento do risco da elevação do nível do mar e do derretimento dos glaciares com maior rapidez e intensidade da Groenlândia e do continente Antártico em função do aquecimento, com grandes riscos para às pequenas ilhas e aos enormes e densamente povoados Mega deltas da Ásia;
* Aumento do risco de extinção espécies;
* Maior certeza nas projeções de aumentos de secas, ilhas de calor e inundações;
Maior evidência da vulnerabilidade dos pobres e populações idosas, tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento, do Ártico e pequenas comunidades insulares.
Amazônia
No caso brasileiro, a principal questão a ser enfrentada é o desmatamento da Amazônia, responsável pela maior parte das emissões brasileiras de gases do efeito estufa. “A mensagem é muito clara: não temos tempo a perder. Entramos numa era de responsabilidade e ação. O governo brasileiro precisa mudar a retórica do 'direito de poluir para crescer' e assumir que, como parte do problema, devemos participar ativamente na luta contra o aquecimento global. Devemos assumir o compromisso pelo desmatamento zero, que garante a conservação de florestas como a Amazônica e eliminar nossa maior fonte de emissões”, afirma Marcelo Furtado, diretor de campanhas do Greenpeace.
O Greenpeace, em parceria com o Conselho Europeu de Energias Renováveis (Erec, na sigla em inglês), lançou em fevereiro deste ano o relatório Revolução Energética, que detalha como o mundo pode conquistar uma matriz energética limpa e renovável até 2050. No capítulo dedicado ao Brasil, elaborado em parceria com a USP, o relatório demonstra como o país pode crescer reduzindo gradualmente fontes “sujas” como o carvão e a energia nuclear.
(Envolverde/Greenpeace, 19/11/2007)