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documentário
2007-11-16
“A Terra tem todo o tempo do mundo. Nós, não”. É com esta frase que se encerra o documentário “A Última Hora” (The 11th hour, no original), que entra em cartaz nos principais cinemas brasileiros no dia 30 de novembro e tem as mudanças climáticas como principal foco. Produzido e narrado pelo astro norte-americano Leonardo DiCaprio, o longa-metragem transmite, em seu último suspiro narrativo, a seguinte mensagem para o espectador: independente do tamanho que a crise ambiental venha a atingir, o planeta continuará girando em volta do sol, novas espécies de animais e plantas vão surgir e, passados os anos, a natureza vai se regenerar. Mas os seres humanos, estes sim, podem desaparecer.

A culpa dessa possível extinção, afirma em coro a maioria dos cerca de 60 cientistas, políticos e pensadores que emprestam suas vozez e imagens ao documentário, é exclusivamente fruto das atitudes antrópicas insustentáveis. Chega a ser curiosa a lembrança, em determinado trecho do filme, de que 99,9999% das espécies que habitaram o globo terrestre em algum momento de sua história já sumiram. Nada mais natural que o mesmo também possa ocorrer com a raça humana, diz um dos entrevistados.

Dirigido pelas irmãs Leila Conners Petersen e Nadia Conners, parceiras de DiCaprio em três outros filmes com temática ecológica, o longa-metragem tem sua espinha dorsal nos pensamentos dos ambientalistas canadense David Suzuki e norte-americano Lester Brown. Do primeiro, os realizadores exploram a relação entre o Homem e a natureza e a necessidade da percepção de que ela é muito mais forte e capaz de reerguer-se do que nós. Já de Brown, a escolha é debater a eficiência de uma economia voltada para fontes limpas de energia, e não mais calcada em combustíveis fósseis.

Pelos 90 minutos de projeção, passeiam pela tela nomes como o do ex-presidente da União Soviética e atual presidente da Cruz Verde Internacional, Mikhail Gorbachev, e o ex-diretor da CIA, James Woolsey, responsável por um dos momentos mais divertidos do documentário. Woolsey cita Winston Churchill, ex-primeiro ministro Britânico, ao contar que os americanos “sempre tomam a atitude correta; depois de esgotarem todas as erradas”. Talvez, afirma, estejam perto de acertarem com as políticas públicas para combater o aquecimento.

O significado
O título do filme aborda os momentos derradeiros que a humanidade possui para reverter o quadro de instabilidade climática e devolver ao planeta a beleza que dele tirou. A noção de ode ao patrimônio natural da Terra, aliás, pontua alguns trechos da narrativa, inclusive nas aparições de DiCaprio em frente à câmera. Esta qualidade, por si só, já pode convencer alguns fãs do ator, céticos em relação ao aquecimento, de que o problema é real e urgente.

A rigor, “A Última Hora” pode ser dividido em duas partes, de tamanhos completamente diferentes. Na primeira hora, uma avalanche de imagens com furacões, tempestades torrenciais e perda de biodiversidade intercalam os depoimentos de dezenas de convidados, escolhidos a partir de uma lista com mais de mil nomes. É durante esta fase que o físico Stephen Hawking fala, com todas as letras, que o “solo, a água e o ar não estão mais disponíveis” para o consumo desenfreado de uma única espécie. É também no decorrer dos primeiros dois terços de projeção que DiCaprio alerta para a possibilidade das catástrofes ambientais dos últimos anos, como o Furacão Katrina e as enchentes no México, não estarem dissociadas umas das outras. “Arriscamos uma convergência de crises, todas um risco”, diz.

Os serviços prestados pela natureza também são ressaltados. Segundo um dos pesquisadores consultados, o homem gasta cerca de 35 trilhões de dólares por ano para atingir resultados que as árvores em pé oferecem gratuitamente. Dentre eles, são citados o seqüestro de carbono e a liberação de oxigênio, o acúmulo de água pela raíz e a fertilização do solo. Em outro trecho, um advogado ressalta os direitos de espécies desrespeitados pela humanidade. Afinal, milhares de animais e plantas são extintos do planeta a cada temporada em virtude da falta de controle em nosso cotidiano.

Quando a platéia presente à sessão especial oferecida pela Fundação O Boticário em parceria com a Warner Bros estava quase sufocada com tanta tragédia, o documentário lançou uma luz capaz de encher de esperança o mais catastrofista dos espectadores. Entre as possíveis soluções com potencial para devolver o equilíbrio ao planeta estavam diversos tipos de construções sustentáveis, lideradas pelos especialistas William McDonough e Bruce Mau. Placas de captação de energia solar, aproveitamento da ventilação natural e telhados verdes são algumas das principais alternativas, aliadas a uma expressiva substituição do uso de petróleo e carvão.

Alguns defeitos
Apesar de suas qualidades, “A Última Hora” é totalmente voltado para o estilo de vida dos habitantes dos Estados Unidos. O consumismo da cultura Tio Sam é um dos pontos mais atacados pelos entrevistados que, antes de mais nada, são amplamente reconhecidos no circuito universitário daquele país, mas não no restante do planeta. É possível, portanto, que o impacto de rostos familiares seja um ponto a favor do documentário dentro dos Estados Unidos, mas talvez se torne um empecilho para vingar nas demais realidades.

Para além deste problema, o que chama maior atenção é a quantidade de informação condensada na hora e meia de imagens. Os espectadores parecem não ter chance de respirar e digerir um dado impactante, porque logo depois já vem outro ainda mais robusto. O biólogo da UFRJ Fernando Fernandez, que participou de um debate ao lado do diretor de O Eco Marcos Sá Corrêa após a projeção, tem uma crítica um pouco mais local. Segundo ele, a realidade brasileira é muito diferente daquilo retratado por DiCaprio e pelas irmãs Conners. “Aqui, nós temos fragmentos inteiros de floresta sem nenhum bicho por causa da caça predatória. Também temos sérios problemas com o desmatamento, que é causa do aquecimento global e não conseqüência, e com o tráfico de animais silvestres. São fatores sutis que fazem a diferença”, lembrou. Fernandez também afirmou que sentiu falta de uma visão mais direcionada para a fauna e a flora, ao invés de algo tão focado no possível desaparecimento dos humanos.

Apesar dos pequenos defeitos, “A Última Hora” tem todos os ingredientes para fazer sucesso: imagens fortes, depoimentos contundentes e a imagem de Leonardo DiCaprio. Talvez seja esta a grande semelhança com “Uma Verdade Incoveniente”. Ambos têm o carro-chefe na figura de pessoas públicas rodeadas por anos de muita pesquisa e alguns dos melhores conselheiros do mundo. Vale a pena assistir.

(Felipe Lobo, O Eco, 16/11/2007)



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