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2007-11-16
Duas renomadas revistas científicas publicarão em suas próximas edições estudos que são um balde de água fria para quem acha que plantar árvores desesperadamente é a única saída para retomar o equilíbrio dos recursos naturais no planeta. Os trabalhos alertam para a urgência de pesquisas mais eficientes sobre a biodiversidade das florestas tropicais e defendem a manutenção de matas primárias, revelando que sua contribuição para a humanidade vai muito além da preocupação de ser um estoque de carbono. Por outro lado, constatou-se que o estudo minucioso destas florestas virgens, embora ideal, é caro, demorado e as medidas de conservação não podem depender destes resultados.

Liderados pelo pesquisador brasileiro Carlos Peres, os estudos foram realizados com equipes da Universidade de East Anglia, na Inglaterra, e do Museu Emílio Goeldi, em Belém. Na região do Jarí, no norte paraense, desenvolveram um amplo experimento sobre conservação da biodiversidade de florestas primárias, secundárias e replantadas com espécies exóticas de rápido crescimento, como o eucalipto. Os pesquisadores escolheram cinco áreas de cada tipo de floresta para compararem seus padrões de biodiversidade. Em pesquisas de campo e laboratório, eles coletaram informações sobre a distribuição de 15 grupos diferentes de animais e plantas. A intenção foi entender as conseqüências das mudanças no uso do solo para o maior número de espécies possível.

Os resultados, a serem publicados na Proceedings of National Academy of Science (PNAS), mostram que pelo menos um quarto de todas as espécies pesquisadas não foram encontradas em outro local senão nas florestas primárias. No caso de aves e árvores, a porcentagem de espécies restritas a essas áreas chegou a 60%. Um sinal de que algumas zonas de fronteiras de desmatamento na América do Sul e no Sudeste Asiático dificilmente serão repovoadas por grande parte das espécies.

Fica claro, portanto, como são preciosas as florestas intocadas para conservação da biodiversidade. Assim como o valor adjacente que as matas secundárias e culturas arbóreas oferecem a espécies que jamais poderiam sobreviver em ambientes destruídos por pastagens ou monocultura de grãos. Também observou-se quão limitadas são as expectativas de solução dos problemas ambientais através de vultosos investimentos nos plantios de árvores que crescem rápido o suficiente para capturarem carbono numa escala desejada.

Segundo o estudo, além de serem habitat para mais da metade das espécies terrestres do mundo, as florestas primárias são muito mais eficientes para estocar carbono do que os plantios de eucalipto. Para Carlos Peres, antes salvar as florestas primárias, pois assim é possível dar mais valor tanto à biodiversidade quanto às suas qualidades no seqüestro de gases.

Os custos da conservação

Embora o estudo sirva de argumento a mais incentivos para a conservação dos remanescentes de florestas primárias, outra pesquisa mostra o quão desafiadora ainda é a tarefa de conhecer adequadamente a natureza. O artigo, que será publicado em edição da revista Ecology Letters e assinado pelas mesmas instituições, mostra pela primeira vez quanto custa estudar o meio ambiente em uma das áreas mais biodiversas do planeta.

Mais de 90% de todas as espécies do mundo ainda não estão catalogadas. Mas num esforço técnico gigantesco, os pesquisadores de East Anglia e do Museu Goeldi identificaram em seus sítios de estudos na Amazônia mais de 60 mil indivíduos e 1.300 espécies de mamíferos, aves, répteis, anfíbios, insetos e plantas, muitos dos quais novos para a ciência. Eles quantificaram quanto tudo isso lhes custou, desde o preço das armadilhas para capturar sapos até o salário dos especialistas.

A iniciativa serviu para mensurar e relativizar os valores da ciência para transformar os investimentos em conservação em ativos mais bem aplicados. Na Amazônia brasileira, por exemplo, o dinheiro necessário para estudar pequenos mamíferos ou moscas e abelhas pode ultrapassar de dez a 100 vezes o custo inicial estimado. De acordo com a pesquisa, essas diferenças não aparecem apenas nos custos, mas também nas respostas obtidas em tais investidas científicas. Segundo declarou Peres, não é possível pesquisar tudo numa floresta, então é preciso treinamento para saber identificar espécies que são particularmente sensíveis às transformações ambientais, e que possam servir de indicadores de mudanças nas florestas como um todo.

Os estudos demonstraram que duas perguntas básicas devem ser sempre perseguidas para que os cientistas desenvolvam trabalhos cada vez mais eficazes: quais são as espécies mais sensíveis às alterações antrópicas e quais são passíveis de boas pesquisas com o mínimo de dinheiro. Segundo os cientistas, a combinação dessas respostas pode mostrar quais são os grupos ideais para avaliar o impacto humano na Amazônia. Trata-se de uma estratégia mais realista diante do pouco tempo e do imenso trabalho para se estudar a biodiversidade, uma chance para aprimorar com mais velocidade o entendimento científico das florestas tropicais.

(Andreia Fanzeres, O Eco, 14/11/2007)

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