O Brasil apresenta uma triste estatística relacionada à falta de coleta e tratamento de esgoto. Mais de 95 milhões de brasileiros não possuem rede de coleta de esgoto sanitário e 40 milhões utilizam fossas sépticas. Nas zonas rurais, a coleta atinge apenas 4% da população. A conseqüência deste descaso das autoridades nas três esferas de poder (federal, estadual e municipal), principalmente nas periferias das grandes cidades do País, é o consumo de água contaminada pelos moradores e a alta mortalidade de crianças, sobretudo até os cinco anos de idade.
O presidente da Sociedade Brasileira de Parasitologia, Carlos Graeff Teixeira, destaca que o grande problema do Brasil em função da falta de investimentos nesta área são os casos de diarréia que proliferam em áreas sem saneamento básico. "São 210 crianças que morrem todo o mês em decorrência da doença, o que é uma vergonha", destacou. Segundo ele, 80% do esgoto produzido no País não recebe nenhum tipo de tratamento e é despejado em lagos, rios, mares e mananciais.
Para o presidente do Instituto Trata Brasil, Luis Fernando Felli, sensibilizar a população sobre a importância e o direito de acesso à coleta e tratamento do resíduo é fundamental. A ONG realiza palestras com os moradores para organizar um planejamento e cobrar do poder público a aplicação de verba no setor. "O País só tem a ganhar com a aplicação de recursos em saneamento. A cada R$ 1,00 investido, o governo federal economizaria R$ 4,00 em gastos com saúde", explicou. Além da diarréia, doenças como cólera, tifo e poliomielite, proliferam em águas contaminadas ou sem tratamento de esgoto.
No 2º Fórum Brasileiro da Água, realizado em São Paulo no início deste mês, foi apresentado um estudo sobre a situação dos serviços de água e saneamento em 177 países. O Relatório de Desenvolvimento Humano 2006 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) destacou projetos brasileiros como exemplos de boas práticas. Entre eles, está o sistema de abastecimento de água de Porto Alegre, a estrutura de coleta de esgoto em um condomínio popular de Brasília e a elaboração do plano de recursos hídricos do Ceará.
O serviço de abastecimento de água e coleta de esgoto da Capital foi classificado pelo relatório como "excelente" e é apontado como exemplo de que é possível reestruturar o setor sem privatizar os serviços. O documento diz que o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) fornece às famílias acesso universal à água potável por um bom preço.
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Jornal do Comercio, 16/11/2007)