O Greenpeace e o WWF (Fundo Mundial para a Natureza) estimam que milhares as aves morreram devido ao vazamento de combustível no estreito de Kerch, entre Rússia e Ucrânia, e alertaram que as seqüelas da catástrofe ecológica perdurarão por 5 ou 10 anos. "O número de aves mortas podem chegar a dez mil, embora a mancha tenha atingido mais de 30 mil pássaros", afirmou Igor Chetsin, diretor da filial russa do WWF.
Em sua maioria, as aves mortas são patos selvagens --os mais inclinados a pousarem na água--, gaivotas e cormorões, que costumam escolher o mar Negro como escala antes de viajarem ao sul da Europa para passarem o inverno. Chetsin informou na quarta-feira (14/11) que dois golfinhos de uma das duas espécies que vivem no mar Negro morreram devido à mancha de combustível.
"Infelizmente, os golfinhos se aproximam da costa no inverno. Saberemos muito em breve qual o prejuízo que a mancha de combustível causará ao habitat desses animais", disse. Quanto aos peixes, a maioria das espécies mortas encontradas pelas centenas de voluntários que participam dos trabalhos de limpeza do combustível é de tamanho pequeno.
A catástrofeDevido à pior tempestade dos últimos 30 anos, na madrugada do domingo passado (11/11), o petroleiro russo Volganeft se partiu em dois, no momento em que transportava mais de quatro mil toneladas de combustível. Segundo fontes oficiais, entre mil e duas mil toneladas de combustível vazaram perto do porto russo de Kavkaz, na região central do estreito de Kerch, lar de uma dezena de espécies em perigo de extinção.
"O impacto do vazamento no ecossistema dependerá em grande medida da velocidade de recolhimento do combustível. Por agora, qualquer outra atividade nesta região deve ser proibida", advertiu Chetsin. O WWF lembra que a economia da região depende em grande medida da pesca e do turismo. A cidade de Sochi, a cerca de 300 quilômetros de Kerch, é o principal balneário russo e receberá as Olimpíadas de Inverno de 2014.
As autoridades da região russa de Krasnodar (sul) estimaram as perdas para o setor pesqueiro em entre US$ 100 milhões e US$ 200 milhões. "Não há razões para ser otimista, embora os trabalhos de limpeza tenham sido eficientes", disse.
ConseqüênciasO representante do Greenpeace na Rússia, Alexei Kiseliov, concorda com o WWF em dizer que serão necessários vários anos para combater as seqüelas do vazamento. "A única notícia positiva é que, segundo fontes oficiais, nos próximos três dias as praias estarão limpas dos restos do vazamento", disse.
De qualquer maneira, os dois ecologistas negaram comparações com o acidente causado pelo naufrágio do navio Prestige, que afundou na costa da Espanha em novembro de 2002 carregando 77 mil toneladas de combustível. "O mar Negro é mais temperado que o Atlântico. Quanto mais fria for a água, mais rápido o combustível se sedimentará no fundo do mar", afirmou Chetsin.O representante da WWF depositou suas esperanças na chegada do verão, para que o combustível que não for recolhido nos próximos dias "apodreça naturalmente", com ajuda dos microorganismos que vivem no mar.
RetiradaKiseliov calculou que entre 300 e 400 toneladas de combustível já foram depositadas no fundo do estreito de Kerch, quantidade que pode vir à tona com o aumento das temperaturas no verão. A mancha de combustível cobriu mais de 50 quilômetros da costa da península de Tuzla, situada no coração do estreito de Kerch.
Em certas áreas, a mancha tem uma largura de entre 10 e 30 metros e 20 centímetros de espessura. Segundo o Serviço Federal de Hidrometeorologia russo, os níveis de contaminação em certas zonas da baía de Taman "superam em 50% o mínimo permitido para a pesca". "Esses números entram na categoria de níveis de contaminação extremamente altos", declarou o SFH.
PrejuízoO chefe do departamento de Estudo do Ecossistema do Instituto de Oceanografia da Rússia, Aleksandr Bereshak, também afirmou que o vazamento pode causar um "grave prejuízo" ao ecossistema do mar de Azov. Os principais atingidos pelo vazamento são os moluscos --os principais habitantes dessas águas-- e outras espécies marinhas migratórias como o esturjão, de onde se extrai o caviar, e o sargo, apontou.
Segundo o Ministério de Situações de Emergência russo, apenas na zona próxima ao porto de Kavkaz já foram recolhidas 1.500 toneladas de combustível, em um trabalho que conta com a participação de mais de mil pessoas. Rússia e Ucrânia, que compartilham o mar Negro com Geórgia, Turquia, Bulgária e Romênia, criaram um grupo de trabalho conjunto para combater as conseqüências do vazamento.
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Efe, 15/11/2007)