O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes, admitiu que outros casos de leite adulterado no país podem ter ocorrido sem que fossem detectados. Apesar de considerar a adulteração do leite com soda cáustica e água oxigenada um caso isolado, Stephanes disse que pode haver falhas no sistema de controle do leite produzido.
A afirmação foi feita nesta quarta-feira (14/11) em audiência pública conjunta promovida pela Comissão de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural e pela Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados. “Se detectamos dois casos, eventualmente pode ter existido mais um ou outro caso não-detectado”, declarou o ministro. Ele, no entanto, alegou que as fraudes se restringem a um pequeno número de casos, que devem ser considerados de forma isolada e tratados como crime.
O ministro argumentou que, apesar da atual crise, o país tem avançado em termos de higiene e qualidade da produção do leite nos últimos anos. Os padrões, segundo ele, são comparáveis com os de países desenvolvidos.
De acordo com Stephanes, são colhidas 10 mil amostras de leite por dia no Brasil, além da execução de análises e laudos para verificar a qualidade do produto: “Com a atual estrutura, acho que temos condições operacionais de dar segurança à população”.
O presidente da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Rodrigo Alvim, também defendeu os produtores nacionais de leite. Segundo ele, a qualidade do produto no país nunca foi tão boa. “Não se justifica esse quadro que se instalou no Brasil recentemente, se o sistema de produção primária tem avançado tanto no quesito qualidade”, declarou.
A crise provocada pelos casos de adulteração do leite, avaliou Alvim, deverá trazer impacto no mercado. O presidente da CNA admitiu que a entidade pode não alcançar a meta de aumentar o consumo do produto para 139 litros por habitante em 2007, nível abaixo dos 180 litros anuais recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
A diretora da Área Alimentar da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Maria Cecília, destacou que existem suspeitas de um processo fraudulento também no soro do leite, o que interfere não só na qualidade do produto como também no valor nutricional. Ela lembrou da detecção de açúcar em lotes analisados pela Fundação Ezequiel Dias. “Além de ser uma fraude, isso também traz risco para os diabéticos que utilizam o soro”, adverte.
O laboratório detectou ainda teores de sódio acima do declarado nos rótulos do produto, o que, conforme a especialista da Anvisa, representa risco para pessoas hipertensas. Em relação ao leite adulterado por cooperativas mineiras, a especialista ressaltou que os 19 lotes das marcas Calú, Parmalat e Centenário já foram interditados e não podem mais ser comercializados.
(Por Paula Laboissière, Agência Brasil, 14/11/2007)