A redução da faixa de areia no Norte de Florianópolis é causada, principalmente, por questões naturais, explicam geógrafos e ocenógrafos. Eles garantem, porém, que as mudanças são agravadas pela ocupação de áreas costeiras e pela destruição de dunas e restingas.
As duas praias em que o avanços das águas provocou maiores mudanças na paisagem - Daniela e Ponta das Canas - são justamente as mais expostas às alterações climáticas e de natureza mais frágil, explica o presidente da Associação Brasileira de Oceanografia, Fernando Luiz Diehl.
Há 10 anos, ele defendeu dissertação de mestrado sobre o pontal da Daniela. O estudo revelou a constante transformação pela qual a praia passa. Segundo ele, o processo atual, de redução da faixa de areia é natural para regiões com pontais arenosos.
- A Daniela já foi muito maior, mas o sedimento da praia está se transferindo para o pontal. Esse movimento é cíclico. A praia engorda e emagrece no decorrer de um período de anos. Agora, estamos na fase de erosão - explicou.
Mutação com direção do vento e movimento da maré
Todas as praias que enfrentam problemas com a diminuição da faixa de areia têm uma característica em comum: estão em constante mutação, por conta da direção dos ventos e do movimento das marés. O oceanógrafo Rodrigo Barletta estuda o regime das marés na região de Canasvieiras e, após analisar fotos aéreas recentes e antigas, afirma que não há uma real diminuição da faixa de areia na praia. O que ocorre, segundo ele, é um grande intercâmbio.
De tempos em tempos, algumas regiões perdem areia e outras ganham. O problema, garante, começa quando as pessoas ocupam essas áreas consideradas móveis e constroem ruas, bares e edifícios:
- Ponta das Canas está em uma área muito móvel. Aquele muro não deveria ter sido construído. Foi por isso que o mar avançou e provocou a erosão da área.
De acordo com o geógrafo Júlio Mudat, que também estuda a região Norte da Ilha, o avanço do mar é natural e as áreas urbanizadas atingidas foram construídas sem estudo, em locais de risco.
- Se os 33 metros de área costeira fossem preservados, haveria uma barreira natural para o avanço da água. Da forma como foi feita a ocupação, essa barreira não existe - disse.
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Diário Catarinense, 14/11/2007)