Programa de gestão de resíduos transforma em adubo orgânico o lixo recolhido no câmpus da Pampulha e incentiva pesquisas sobre o temaCiência para cumprir a máxima atribuída ao químico francês Antoine Lavoisier, de que na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. Na UFMG, folhas secas, resto de cortes de gramas e podas de árvores são triturados e recebem cuidados especiais para voltar à terra em forma de adubo. Cerca de 40% do lixo verde gerado no câmpus Pampulha já é reutilizado para fortalecer os jardins da universidade. Conhecimento aplicado para resolver um problema administrativo e promover ações em prol do meio ambiente. As ações também são usadas em pesquisas científicas e representam uma economia no repasse feito à Superintendência de Limpeza Urbana (SLU).
O reaproveitamento do material recolhido no corte dos gramados, catação de pragas e varrição de folhas secas foi alcançado com o Programa de Gestão de Resíduos. Até 2000, tudo era queimado na Estação Ecológica. Atualmente, a UFMG recicla cerca de 3 mil dos 7 mil metros cúbicos gerados por ano. O programa envolve setores ligados à Administração Central e ao Departamento de Engenharia Sanitária (Desa) e Ambiental da Escola de Engenharia.
Neste ano, as ações ganharam reforço com a ajuda de triturador – para reaproveitamento dos galhos –, trator, carreta e outros equipamentos. A reciclagem serviu para reduzir a quantidade de lixo remetida à SLU. Em 2005, a UFMG enviou 353 toneladas de lixo verde, o que custava R$ 4,6mil, por ano. Atualmente esse total caiu para 98 mil quilos, com um custo de R$ 1,4 mil.
Logo que o material recolhido é levado para a Divisão de Áreas Verdes, ele é empilhado, o que é chamado de leira. Nesse local, passa por vários estágios e cuidados para sua decomposição e formação do adubo. “O apoio que recebemos do Desa serve para ditar ‘a receita do bolo’. Já descobrimos, em nossas experiências, que uma medida de folhas junto com três de gramas acelera o processo de decomposição. Na natureza, o recolhido também viraria adubo, mas levaria um ano ou mais. Com as técnicas que usamos aceleramos o processo e levamos três meses para transformar os resíduos em adubo”, conta o diretor da Divisão de Áreas Verdes do Departamento de Planejamento Físico e Obras (DPFO), Geraldo Motta.
O controle da temperatura em alguns experimentos é feito com túneis de ventilação. Para essas pilhas não é necessário remover o material. “Fazemos uma associação do conhecimento científico criado na universidade para resolver um problema administrativo, já que precisávamos dar um destino a esses resíduos. Em 2005, tivemos a primeira defesa de tese sobre o tema e atualmente existem vários estudantes que trabalham para dar um acabamento cada vez melhor ao composto orgânico”, define a diretora do Departamento de Serviços Gerais (DSG), Eliane Ferreira.
Na tentativa de aperfeiçoar cada vez mais o adubo, restos de alimentos de algumas cantinas da UFMG e de fezes de animais da Faculdade de Veterinária estão sendo incorporados às pilhas de folhas secas durante a compostagem. Por dia, o câmpus Pampulha gera 1,5 tonelada desse tipo de resíduo. Metade é sobra de comida deixada nos pratos e o restante corresponde a cascas, talos e demais partes não consumidas de legumes, frutas e outros gêneros alimentícios.
A criação do adubo foi uma forma de resolver o problema do lixo verde. “Era preciso uma operação de guerra para queimar os resíduos. Tínhamos que mobilizar o Corpo de Bombeiros e caminhões pipa, e era uma queima demorada que não trazia qualquer benefício para o meio ambiente. Quando a Estação Ecológica proibiu a entrada desse material, enfrentamos o problema. Hoje somos auto-suficientes em adubo orgânico”, afirma Geraldo.
(Luciana Melo,
Estado de Minas, 13/11/2007)