As metas definidas para a adição de biodiesel e etanol aos combustíveis fósseis, que devem atingir os 20% nas próximas duas décadas na maioria dos países, fazem da Europa um mercado altamente promissor para os biocombustíveis brasileiros. Mas a União Européia dá indicativos, também, de que será uma consumidora cautelosa e que ainda guarda muitas dúvidas sobre a sustentabilidade dessa nova alternativa energética.
O assunto foi discutido, no início deste mês, na Conferência Internacional sobre Cooperação Energética entre a Europa e a América Latina realizada em Berlim, na Alemanha. Questionado por representantes de governos, empresários, acadêmicos e ambientalistas que participavam do encontro, o secretário de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável, Egon Krakhecke, que representou o Ministério do Meio Ambiente, reiterou a posição da ministra Marina Silva de que o Brasil deve excluir a Amazônia e o Pantanal mato-grossense do zoneamento agroecológico para o cultivo da cana-de-açúcar, que será concluído até julho de 2008. "A Europa precisará de biocombustíveis e sabe que não tem condições de produzi-lo em volume suficiente. Mas desde já está se posicionando pela sustentabilidade da produção, caso ela ocorra", constatou o secretário.
Segundo Egon, os principais questionamentos dos europeus são relativos à eficiência energética dos biocombustíveis, aos eventuais riscos que eles podem representar para a produção de alimentos e aos impactos ambientais da cultura de cana-de-açúcar, especialmente na Amazônia.
"Essas preocupações foram evidenciadas tanto na conferência - e lá de forma muito enfática por parte das ONGs participantes - como no encontro reservado que tivemos com o representante do Ministério do Meio Ambiente alemão, sr. Urban Rid", informou o secretário.
Apesar da clareza, entre os europeus, de que o etanol de cana-de-açúcar é a melhor alternativa para se reduzir a emissão de carbono, já que o produto brasileiro apresenta um balanço energético muito superior ao etanol de milho produzido nos Estados Unidos, persiste a preocupação com a cultura da cana invadir terras férteis, comprometendo a produção de alimentos, e estimular o avanço do desmatamento.
"Expliquei que o Brasil tem condições de sustentar a produção de etanol porque tem ampla disponibilidade de terras em áreas já abertas e degradadas e informei que o zoneamento agroecológico da cana-de-açúcar será instrumento para o governo garantir a sustentabilidade da produção".
O Ministério do Meio Ambiente da Alemanha levantou a possibilidade de o Brasil criar um certificado, para garantir a sustentabilidade da produção do etanol para atender às exigências do consumidor europeu. O assunto deve voltar à pauta de discussões entre os dois países no início de 2008, quando está prevista uma visita da comitiva do governo daquele país ao Brasil.
A Conferência Internacional sobre Cooperação Energética entre a Europa e a América Latina foi realizada por iniciativa do Fórum Socialista do Parlamento da União Européia.
(Por Lúcia Leão, Ascom MMA, 13/11/2007)