A assessoria de imprensa da Petrobras confirmou nesta terça-feira (13/11) a informação divulgada por agências internacionais de notícias, e atribuída ao presidente da estatal, José Sergio Gabrielli, de que desistiu de participar de projeto de investimento na exploração e produção do campo de gás natural de Mariscal Sucre, na Venezuela.
As diferenças de opinião sobre os objetivos e a forma de desenvolvimento e comercialização do campo, cuja produção deverá chegar a 18 milhões de metros cúbicos diários, a partir de 2010, já haviam sido admitidas pelo diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró. A principal delas dizia respeito à forma de comercialização das reservas: os venezuelanos pretendiam vender a maior parte para o mercado interno, a preço subsidiado, enquanto a estatal brasileira pretendia chegar ao mercado externo, onde o gás natural liquefeito (GNL) daria maior retorno comercial.
A declaração em que descarta a participação brasileira no empreendimento foi dada pelo presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, em Roma,onde participa de Congresso Mundial de Energia, e confirmada pela assessoria de imprensa, que lembrou a manutenção de outros projetos conjuntos com a estatal venezuelana PDVSA. Entre eles, citou a construção da Refinaria Abreu Lima, em Pernambuco, que poderá processar o óleo pesado do campo de Carabobo, na faixa do Rio Orinoco, e o do campo de Marlim, na Bacia de Campos (RJ).
A princípio, o empreendimento envolve a criação de uma empresa de capital misto, em que a Petrobras teria 40% de participação na parte venezuelana do empreendimento, enquanto a PDVSA teria os mesmos 40% de participação na refinaria a ser construída no Brasil.
Na avaliação do professor Giuseppe Bacoccoli, especialista em petróleo da Coordenadoria dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ), essas desavenças refletem, mais do que a discordância sobre a forma de comercialização do gás natural, um processo de fechamento gradativo dos mercados de petróleo e gás em várias partes do mundo, "depois do movimento liberalizante das empresas em busca de financiamentos externos das grandes corporações".
Para Bacoccoli, vive-se agora um processo inverso que não mais utiliza como argumento o monopólio estatal, mas sim o do temor de que os grandes grupos estrangeiros levem para fora desses países o petróleo por eles explorado e produzido. "Na prática, o que se vê é a criação de dificuldades como as da Venezuela para o projeto Mariscal. Primeiro, com a Shell, que foi mandada embora depois de ter investido na construção do projeto de exploração da jazida. E agora também foram criadas dificuldades para a Petrobras", citou.
(Por Nielmar de Oliveira, Agência Brasil, 13/11/2007)