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gestão dos recursos hídricos
2007-11-13

Seis pesquisadores brasileiros ganharam o Prêmio OMM Jovem Cientista – Ano 2006, concedido pela Organização Meteorológica Mundial (OMM). Walter Collischonn, Cristopher Souza, Gabriela Priante, Glauco Kimura, Rutnéia Tassi e Sidnei Gusmão receberam a distinção do secretário geral da entidade, Michel Jarraud, em cerimônia no Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP), no fim de outubro, na capital paulista.

A homenagem se deve ao artigo Em busca do hidrograma ecológico, em que analisam uma metodologia inovadora, proposta em 2003 pelo pesquisador norte-americano Brian Richter – hoje diretor da The Nature Conservancy –, para o gerenciamento dos recursos hídricos de modo a manter a integridade dos ecossistemas e, ao mesmo tempo, atender aos usos humanos.

Collischonn, professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ilustra a importância da metodologia com o caso de um rio cercado por áreas agrícolas cujas águas são usadas para irrigação.

Como boa parte dessa água não retorna ao rio, devido à evaporação ou absorção pela própria plantação, é preciso cuidar da quantidade de água que deve permanecer no leito com base em cálculos de vazão – litros por unidade de tempo – e no volume extraído.

“A quantidade de água que passa nos rios por dia é limitada, principalmente nos períodos de estiagem. Por conta disso, muitos rios secaram em todo o mundo no decorrer da história devido à falta de manejo adequado”, disse Collischonn, à Agência Fapesp.

“Como ainda são poucas as iniciativas no Brasil que levam em conta os regimes hidrológicos e a variabilidade dos ecossistemas, ganhar esse prêmio contribui para o aumento da visibilidade desse tipo de metodologia e da necessidade de sua aplicação em larga escala”, destacou.

O artigo, publicado originalmente nos anais do 16º Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, faz uma análise da adaptação da metodologia, denominada Manejo Ecologicamente Sustentável da Água (Mesa), em bacias hidrográficas da América do Sul.

Para isso a metodologia, que vem sendo utilizada em rios nos Estados Unidos, foi organizada em seis passos, entre eles a estimativa das necessidades de vazão para conservar ecossistemas naturais associados ao rio, a estimativa das necessidades de vazão atuais e futuras para uso humano, a avaliação dos conflitos entre usos humanos e necessidades dos ecossistemas e a realização de experimentos práticos de manejo de água.

Limites críticos

O estudo considera ainda que as tradicionais metodologias baseadas no conceito de vazão ecológica, ou seja, a vazão que deve permanecer no rio após todas as retiradas de água para uso humano, concentram-se apenas na vazão mínima e não consideram outros aspectos do regime hidrológico, como os períodos de estiagens e de cheias.

“Com a metodologia de Richter, a partir da análise estatística da vazão, temos uma estimativa do volume de água que cada usuário pode retirar do rio e quais são os limites críticos, de modo que a somatória de todos os usuários não exceda a vazão de referência e sempre permaneça uma quantidade mínima de água para proteger a sustentabilidade ecológica”, explicou Collischonn.

O pesquisador explica que os organismos de proteção ambiental estaduais e federais, como a Fundação Estadual de Proteção Ambiental do Rio Grande do Sul e a Agência Nacional de Águas (ANA), são responsáveis pela determinação da vazão mínima dos rios brasileiros, sendo os critérios diferentes em cada região.

Além dos Estados Unidos, outros países adotam metodologias semelhantes, como a Austrália e a África do Sul. Para adotar esse tipo de iniciativa no Brasil, o artigo traça uma série de desafios a serem superados, como os relacionados ao contexto tradicionalmente dominado pelo uso da água para geração de energia elétrica no país.

“O maior desafio, no entanto, é a falta de pesquisas interdisciplinares sobre recursos hídricos e ecologia que possam orientar os tomadores de decisão. Ainda temos poucas informações científicas sobre como os regimes hidrológicos estão conectados com o meio biológico dos animais e plantas”, apontou Collischonn.

O Prêmio OMM Jovem Cientista, que consiste em um certificado e US$ 1 mil em dinheiro, foi criado em 1970 pelo Conselho Executivo da OMM. O objetivo é encorajar jovens pesquisadores, de preferência oriundos de países em desenvolvimento, a publicar artigos nas áreas de meteorologia e hidrologia. Desde sua criação, 40 prêmios foram concedidos a vencedores de 28 diferentes países.

Para ler o artigo Em busca do hidrograma ecológico, clique aqui.

(Por Thiago Romero, Agência Fapesp, 12/11/2007)

 


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