A fábrica de celulose da empresa finlandesa Botnia localizada em Fray Bentos, oeste do Uruguai --causadora de uma crise política sem precedentes com a Argentina-- fará na terça-feira seu primeiro embarque de pasta de celulose, segundo informações da companhia. A direção da Botnia declarou que, já nesta segunda-feira, os primeiros fardos de celulose estarão prontos, assim que passarem pelos processos de branqueamento, lavagem e empacotamento.
A fábrica começou a operar na sexta-feira passada, o que provocou protestos na Argentina, tanto por parte de seu governo como por parte de grupos de defesa do meio ambiente. Eles consideram a indústria altamente poluidora e dizem que irá afetar o rio Uruguai, fronteira natural entre os dois países. Em declarações via rádio, a diretora de comunicação da Botnia, Florencia Herrera, explicou hoje que todo o processo de fabricação está sendo conduzido normalmente.
"Estamos muito satisfeitos com o início das operações da empresa, que foi muito bom", afirmou. No entanto, admitiu que apareceu na região um "cheiro de repolho fervido", e que isso pode acontecer de maneira "intermitente" nos próximos dias. Segundo ela, "isto não tem nenhum efeito sobre a saúde", em referência a declarações do ambientalista argentino Jorge Fritzler, quem hoje denunciou que dois funcionários argentinos da Comissão Administradora do Rio Uruguai, que trabalham em frente à fábrica, na outra margem do rio, sentiram dores estomacais.
Em declarações dadas à rádio uruguaia "Carve", Fritzler ressaltou que uma denúncia sobre o caso está sendo preparada. Florencia Herrera explicou em outras declarações dadas hoje ao jornal uruguaio "El País" e divulgadas em sua edição digital que, em dois ou três dias, a empresa estará "em condições de levar celulose até Nueva Palmira e, de lá, fazer a primeira exportação para a Europa."
Nueva Palmira é uma pequena cidade portuária localizada cerca de 40 quilômetros ao sul de Fray Bentos, onde foi construído um cais especial para a celulose da Botnia, que terá Europa e Ásia como destinos principais de exportação. A construção e o início das operações da fábrica da Botnia em Fray Bentos motivaram uma grave polêmica entre Uruguai e Argentina que chegou até a Corte Internacional de Justiça de Haia.
A Espanha, através do rei Juan Carlos I e do embaixador espanhol na ONU, Juan Antonio Yánez-Barnuevo, está intermediando o conflito. A crise se agravou na semana passada depois de o presidente uruguaio, Tabaré Vazquez, ter permitido a operação da indústria enquanto participava da Cúpula Ibero-Americana no Chile --ocasião em que argentinos e uruguaios conversavam sobre o conflito com a mediação espanhola. Neste último fim de semana, ambientalistas argentinos bloquearam novamente três das pontes que ligam os dois países em protesto pelo início das operações da fábrica.
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Folha Online, 12/11/2007)